negociacoes 300x200 Negociações climáticas avançam, mas obstáculos persistem
Foto: IISD
Países reunidos em Bonn se comprometem em trabalhar na elaboração de um rascunho do novo acordo climático a partir de junho, porém as divisões ainda são muitas e o tempo é curto.
A primeira rodada de negociações climáticas de 2014, encerrada na última sexta-feira (14) em Bonn, na Alemanha, conseguiu avançar, mas também deixou claro o quão grande é o desafio para a criação do novo acordo climático global, que deve substituir o Protocolo de Quioto em 2020.
Os 200 países reunidos apresentaram suas visões para o novo tratado, e, sem grandes surpresas, as divergências são inúmeras, em especial entre as nações desenvolvidas e as emergentes.
Apesar disso, ficou acertado que grupos de contato, formados por representantes das nações, continuarão trabalhando para diminuir as diferenças de pontos de vista e também que um rascunho do acordo climático começará a ser elaborado a partir de junho e deverá estar pronto até a Conferência das Partes da Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Lima (COP 20), agendada para dezembro, no Peru.
“É um sinal positivo que as nações tenham colocado as mãos na massa com entusiasmo. O acordo está começando a tomar forma”, declarou Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Mesmo com o tom de vitória, Figueres lembrou aos países que o tempo é curto.
“Os próximos nove meses exigirão que as nações deixem para trás o ‘business-as-usual’ para que possam conter as ameaças das mudanças climáticas e aproveitar as oportunidades da transição para uma economia limpa, saudável e de baixo carbono”, completou.
Durante todo o encontro em Bonn, ficou evidente que ainda há muito o que se discutir sobre o novo acordo, principalmente se ele terá a “abordagem bifurcada” de Quioto, isto é, se fará diferenciação entre países ricos e emergentes.
O negociador dos Estados Unidos, Trigg Talley, afirmou que os norte-americanos não apoiarão um acordo que siga esse modelo, destacando que hoje a China é o maior emissor de gases do efeito estufa do planeta.
“Manter o modelo de Quioto significa que não teremos um acordo em Paris [COP 21, em 2015, data limite para o estabelecimento de um novo tratado climático]. Mesmo se um acordo com essas características saísse do papel, de nada adiantaria, já que boa parte das emissões mundiais continuariam sem controle”, afirmou Talley.
A firme posição dos EUA refletiu na declaração final do grupo conhecido como BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China).
“Nada foi alcançado em Bonn, vimos apenas repetições dos mesmos pontos de vista dos últimos dois anos [...] A contribuição dos países em desenvolvimento deveria ser no contexto do ‘desenvolvimento sustentável’ e atrelada aos compromissos dos ricos em financiar ações climáticas e transferir tecnologias limpas.”
O BASIC ganhou o apoio do grupo africano, que declarou que as nações ricas deveriam adotar a meta de reduzir suas emissões em 40% até 2020 com relação a 1990.
Já o bloco dos países menos desenvolvidos (LDCs) e a União Europeia destacaram que é preciso que todos contribuam para lidar com as mudanças climáticas.
“O processo [de criação do novo acordo] precisa da liderança de todas as Partes, e a negociação do rascunho deve ser acelerada, assim como o apoio às ações de adaptação”, afirmou o representante do Nepal em nome dos LDCs.
“Todas as Partes devem agir se quisermos manter o aquecimento global em menos de 2C. Todos devem ter responsabilidades e se engajar com seriedade nas negociações”, declarou a União Europeia.
Para Kishan Kumarsingh e Artur Runge-Metzger, co-presidentes da rodada de Bonn, o evento colocou na mesa uma lista de objetivos que deve ser cumprida até o final da COP 20, em Lima.
“Ainda neste ano temos que ter resultados tangíveis em diversas frentes: novas e mais fortes iniciativas regionais e internacionais; as Partes, especialmente os países desenvolvidos, devem adotar novas políticas e assumir mais ações; maior participação em parcerias inovadoras; e mobilização dos recursos necessários para fazer as ações acontecerem.”
Os negociadores têm ainda mais um compromisso neste mês, quando, também em Bonn, será debatido um mecanismo internacional de “Perdas e Danos” para lidar com eventos climáticos extremos.
Além disso, as mudanças climáticas devem continuar na agenda internacional, pois em abril o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgará dois novos relatórios.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)