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Com o panorama nacional na área de energia ainda parecendo confuso e contraditório, em razão de omissões e ações discutíveis de órgãos reguladores federais, felizmente surgem informações alentadoras, principalmente em setores das chamadas energias “alternativas”, dentro e fora do País.
Pode-se começar pela notícia de que o governo federal decidiu (Folha de S.Paulo, 5/7) incluir usinas eólicas no leilão de novas fontes que fará em outubro – depois de o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) haver declarado que não poderia incluí-las porque certamente ganhariam e não dariam oportunidade a outras fontes (Estado, 26/5). Elas serão entregues em três anos, para se somarem à fração da matriz energética que já representam. Outra boa notícia é de que o governo resolveu (Agência Brasil, 3/7) desligar todas as usinas termoelétricas a óleo combustível e diesel, ligadas desde outubro de 2012 (34 no total), com a alegação de que o nível dos reservatórios das hidrelétricas estava “muito baixo”. A economia será de R$ 1,4 bilhão por mês. Mas permanecerão outras usinas, inclusive a carvão.
Também alvissareira é a informação (EcoD, 3/7) de que estudos do Ministério de Minas e Energia preveem que o custo de usinas movidas a energia solar “deve cair” quase 50% até 2018 – a ponto de os leilões a partir de 2016 já incluírem esse tipo de usina, assim como as que queimam resíduos sólidos (estas, discutíveis). Até de outros cantos vêm boas notícias, como a do Instituto Socioambiental de que os 10 mil moradores de 90 comunidades da área Raposa-Serra do Sol, em Roraima, vão instalar três torres para medir a intensidade de ventos e a possibilidade de terem usinas eólicas. As perspectivas são tão boas que uma grande empresa vai instalar aqui (Estado, 29/6) uma fábrica de aerogeradores, tendo em vista a expansão prevista, para 5.500 MW até 2017.
Mas nem de todas as controvérsias nossas autoridades do setor desistem: vão leiloar usinas térmicas a carvão, gás natural e biomassas em agosto. E o pretexto é o habitual: “demora” (ou incompletude?) dos estudos de impactos ambientais. Nem de novas usinas nucleares – tanto que a Eletronuclear vai responder ao pedido de impugnação de construtoras na área de Angra 3, prevista para operar em 2018. Mas a direção da Empresa de Pesquisas Energéticas descarta a possibilidade de outras usinas nucleares em curto prazo (O Globo, 5/7).
O alto potencial de usinas solares e eólicas pode ser visto, por exemplo, no levantamento da Secretaria de Energia do Estado de São Paulo, onde está dito que a irradiação solar em qualquer região brasileira supera os valores encontrados na maioria dos países europeus e é semelhante à das “grandes áreas referenciais do Nordeste brasileiro” – além de possibilitar custos reduzidos de transmissão e distribuição. Uma “oportunidade incontornável”, escreve ali o secretário José Aníbal. Cada metro cúbico pode gerar, em um ano, energia equivalente à de 56 metros quadrados de área inundada por reservatórios de hidrelétricas, 66 litros de diesel, 55 quilos de gás. O plano paulista é ter 1.000 MW de usinas solares até 2020. O potencial é tão alto que, segundo o estudo, 0,01% da radiação solar total equivale a toda a energia consumida no mundo.
Mas não é só a energia solar. O Atlas Eólico paulista prevê chegar a 2020 com 69% de energia “limpa” no Estado, incluindo o aproveitamento da energia dos ventos. Com estes a velocidade média superior a 6,5 metros por segundo, há várias regiões favoráveis no Estado, principalmente nas regiões de montanhas da Serra do Mar, no sul do Estado, e no entorno de Jaú. Com altitudes favoráveis, acima de 100 metros, há outras áreas onde os ventos chegam a 7 e 8 metros por segundo. Ao todo, o potencial do Estado nessa área é de 4.734 MW.
O mundo vai-se transformando nessas direções. Na Inglaterra, no estuário do Rio Tâmisa, está sendo implantada a maior usina eólica offshore, com 175 turbinas e potência de 630 MW, que poderá subir para 870 MW. Suas pás de mais de 120 metros ficarão 480 metros acima do mar. Lancaster, na Califórnia, quer ser a “capital da energia fotovoltaica”, com painéis solares em todos os telhados de casas e estacionamentos de veículos. Los Angeles quer instalar painéis solares nos telhados de 30 mil casas e pagar aos investidores pela energia que sobrar e for para a rede de distribuição. E os Estados Unidos já têm 8 usinas eólicas e 24 solares. A Europa instalou 124 solares e 33 eólicas em uma década. A China quer chegar com as alternativas a 40% da matriz em cinco anos. Já é o país líder nessa área, seguido dos Estados Unidos. E já há até conflitos comerciais entre a China e a Alemanha (Estado, 7/6), porque o país europeu sobretaxou a compra de equipamentos chineses nesse setor.
A França, por sua vez, aprovou resolução nacional que obriga edifícios não residenciais a apagar suas luzes durante a noite e evitar a emissão de 250 mil toneladas de carbono na geração de energia. Uma das poucas exceções é a Torre Eiffel (CicloVivo, 7/7).
Por aqui, ainda estamos na promessa do governo federal de reduzir o consumo de energia em 17% até 2020. Porque continuamos a importar gás natural para geração de energia (mais 77% este ano), petróleo e derivados (mais 11%). O déficit na conta dessa área é de US$ 11 bilhões, segundo a jornalista Miriam Leitão (9/6). E parte do gás se destina a termoelétricas.
Mas com tecnologias já disponíveis poderíamos atender a 10% da demanda total com energia eólica e solar. O potencial inexplorado é de 340 GW, três vezes mais que a capacidade total instalada (professor Heitor Scalambrini Costa, da Universidade Federal de Pernambuco, 25/6).
Ainda que o cenário pareça sombrio em certos momentos, a mudança está ocorrendo – para melhor.
* Washington Novaes é jornalista.** Publicado originalmente no site O Estado de s. Paulo. (O Estado de S. Paulo)
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