(da Redação da ANDA)
Foto: Animals Asia
Desde tempos remotos, os cães foram considerados pelos vietnamitas como os melhores amigos do homem. Alguns até mesmo costumavam colocar estátuas de cães feitas de pedra nas portas de suas casas ou vilas, acreditando que isso afastaria os maus espíritos. A aldeia Dich Vi em Dan Phuong (Hanoi) tem adorado cães de pedra há muitos séculos. Todo dia 1 e 15 do mês lunar, o incenso é queimado para essas estátuas e as pessoas vão até as mesmas para rezar e pedir soluções para seus problemas. No entanto, embora os cães tenham esse lugar especial na cultura e sociedade vietnamitas, a carne de cachorro ainda é amplamente considerada parte da cultura culinária no país. As informações são da One Green Planet.
Não se sabe quando as pessoas começaram a comer carne de cachorro no Vietnã. Segundo o folclore, o consumo de carne de cão começou com cães sendo oferecidos como sacrifício em cerimônias, sendo que os feiticeiros eram os únicos autorizados a comer a tal carne. Estes tinham que se esconder para consumir a carne, ou comê-la somente à noite.
Durante a colonização do Vietnã pela França, do final do século XIX até 1945, o comércio e o consumo da carne de cachorro foram proibidos, e qualquer pessoa que violasse a lei corria o risco de ser condenada à prisão. O consumo tornou-se clandestino e o termo “Thit Cay” (que significa carne de animais de pequeno e médio porte) passou a ser usado para referência à carne de cachorro ao invés de “Thit Cho” (carne de cachorro propriamente dita), de modo a evitar a publicidade da prática. Até hoje, muitos restaurantes ainda usam esse termo para designar a oferta da carne de cão.
Foto: Animals Asia
Após o fim da colonização, os mercados começaram a vender carne de cachorro e o consumo cresceu, especialmente nos anos 90. Em Hanoi, o consumo da carne de cão pareceu ter atingido o ápice entre o meio da década de 1990 até o começo do século XXI, quando em apenas um trecho da rodovia Nhat Tan havia mais de 50 restaurantes especializados, causando inclusive congestionamentos frequentes na região.
Para satisfazer a demanda crescente, vilas como Cao Ha no distrito de Thanh Oai, em Hanoi, viram uma oportunidade de enriquecimento nesse mercado. Durante o auge, a vila teve os maiores matadouros de cão do norte do Vietnã, que matavam cerca de 400 animais por dia – número que aumentava significativamente nos finais de meses lunares devido à conhecida superstição de que o consumo de carne de cachorro no final do mês lunar traria boa sorte. A origem dessa crença é desconhecida, mas ela se encaixa com a cultura vietnamita que se orienta nos meses lunares para várias práticas, como por exemplo as visitas aos templos.
De onde vêm os cães e como sofremNão há fazendas de criação de cães conhecidas no Vietnã. Famílias em áreas rurais mantêm de um a três cães para proteger as suas propriedades e para obter uma renda extra para procriá-los. Os comerciantes de cães vão de aldeia em aldeia, de moto, comprar cães para abastecer restaurantes. Como cães locais são incapazes de satisfazer a crescente demanda por carne, a maioria dos moradores de Cao Ha tornou-se comerciante de cães e começou a trazer cães da Tailândia.
Muitos moradores de Cao Ha tornaram-se ricos, uma vez que um cão na Tailândia pode ser adquirido por menos de 5 dólares, e no momento em que chega ao restaurante, os clientes pagam cerca de 50 dólares ou mais pelo mesmo cão. A vila também é conhecida como “a aldeia que mata cães estrangeiros”.
De acordo com o Departamento de Saúde Animal do Vietnã, em seu pico, aproximadamente 500 mil cães estão sendo ilegalmente importados da Tailândia para o Vietnã a cada ano para suprir este mercado. O comércio ilegal de cães entre a Tailândia e o Vietnã é desumano, com crueldade grave inerente em todas as fases – fornecimento, transporte, venda e assassinato. Uma vez obtidos das ruas da Tailândia, os cães são presos em gaiolas onde são incapazes de se levantar ou se virar. Muitas vezes eles adoecem ou ficam feridos no manuseio, e não recebem qualquer comida ou água durante toda a duração da viagem, que leva vários dias, começando no norte da Tailândia até o destino final em Thanh Hoa, região central do Vietnã, uma distância de cerca de 700 km ou mais. Muitos cães morrem de asfixia, desidratação, doenças ou insolação muito antes de chegarem ao seu destino final.
Foto: Animals Asia
Governos e ONGs discutem proibiçãoPara lidar com esse horrível comércio, a Asia Canine Protection Alliance (ACPA), composta pelas ONGs Animals Asia, Change for Animals Foundation, Humane Society International e Soi Dog, foi formada em maio de 2013, com o objetivo principal de apoiar pessoas e governos do Vietnã, da Tailândia, do Laos e de Camboja a acabar de forma eficaz e sustentável com o comércio de cães para consumo humano. Além da crueldade, o comércio ilegal de cães apresenta risco significativo de epidemia de raiva, com uma média de 100 pessoas morrendo a cada ano no país devido à doença, entre outros riscos à saúde humana e dos animais.
Em uma iniciativa pioneira liderada pela ACPA, representantes dos governos do Vietnã, da Tailândia, do Laos e de Camboja reuniram-se em Hanoi em agosto de 2013 para considerar e acordar uma moratória de cinco anos sobre o comércio de cães entre a Tailândia e o Vietnã. O Departamento de Saúde Animal do Vietnã aprovou posteriormente a moratória através da emissão de uma diretiva às suas agências e postos de fronteira para impedir a importação ilegal e trabalhar com organizações internacionais para aumentar a conscientização sobre os perigos do consumo de carne de cachorro e a ilegalidade do comércio na fronteira. A ACPA facilitou uma reunião de acompanhamento em fevereiro de 2014 em Bangkok, onde representantes dos governos do Vietnã e de Laos concordaram em se encontrar na fronteira mais utilizada pelos comerciantes de cães para discutir um plano de ação detalhado no sentido de acabar com esse comércio ilegal.
Conforme a reportagem, combater o comércio ilegal de cães é o primeiro passo definitivo para alcançar o objetivo da ACPA de acabar com o consumo de carne de cachorro no Vietnã mas, sem dúvida, a mudança de atitude das pessoas é um grande desafio, pois a cultura é muitas vezes usada para defender o consumo. No entanto, a cultura não pode ser um argumento para a crueldade e, dado o aumento no número de animais de companhia no Vietnã, há muita esperança para um fim dessa prática na qual milhares de cães são mortos todos os anos para consumo humano.
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