Os líderes empresariais globais reunidos no B-Team, iniciativa que busca promover melhores formas de fazer negócios, demandaram em Genebra que líderes políticos de todo o mundo se comprometam em zerar as emissões líquidas de gases de efeito-estufa (GEE) até 2050. O B-Team também demandou dos demais líderes empresariais globais que se juntem a esta visão e se comprometam com metas ousadas de longo prazo.
A meta proposta pelo B-Team baseia-se nas recentes negociações feitas em dezembro, durante a Cúpula do Clima de Lima, a COP-20, e se fundamenta nas avaliações da ciência climática, nos riscos aos negócios e nos custos econômicos previsíveis caso não se limite o aquecimento global em 2°C.
A recente avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que zerar a emissão líquida de gases de efeito estufa até 2100 só nos daria 66% de chances de limitar o aquecimento global em 2°C. O B-Team acredita que uma em três chances de fracasso é um cenário de risco razoável, com implicações significativas nos custos, o que fortalece a proposta desse grupo de empresários para que todos trabalhem visando reduzir a zero as emissões líquidas de GEE até 2050.
Líderes dos governos de todo o mundo devem se encontrar em Paris na COP21 para negociar um novo acordo global, processo que se inicia com negociações antecipadas em Genebra na próxima semana. A Reunião de Cúpula em dezembro é um momento decisivo na história da humanidade, quando se espera obter um acordo ambicioso para substituir o Protocolo de Kyoto e limitar o aumento da temperatura média em 2°C.
Para alcançar essa meta, os líderes do B-Team estão propondo ações nas seguintes áreas:
- Para os governos, comprometer-se com a meta global de zero emissões de GEE em 2050, incluindo-a no acordo a ser assinado em dezembro na COP-21 de Paris;
- Para as empresas, aceitar essa ambição comprometendo-se com metas de longo prazo e aplicando soluções de baixo carbono de forma crescente – e assim possibilitando ao mundo alcançar a meta emissão zero;
- Tanto para as empresas como para os governos, adotar uma preços expressivos e efetivos para o carbono;
- Para os governos, acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, e assim transferir esses recursos para tornar mais acessíveis soluções de energia renovável em larga escala, a fim de facilitar uma transformação econômica mais ampla;
- Para governos e empresas, assegurar que os subsídios para auxiliar vítimas da mudança climática se dirijam às comunidades mais pobres e vulneráveis, que sofrem desproporcionalmente e são menos preparadas para enfrentar suas consequências.
As empresas já arcam com custos gerados pelas mudanças climáticas em consequência das interrupções das cadeias de fornecimento por causa de eventos extremos, da elevação do nível do mar e acidificação dos oceanos, da queda de rendimento das culturas agrícolas e do aumento da desertificação. Ao mesmo tempo, as populações mais pobres e vulneráveis do mundo – que são desproporcionalmente afetadas e menos equipadas para lidar com o problema – estão sendo as mais prejudicadas.
O B-Team defende que é uma oportunidade histórica a transição para uma economia sem emissões líquidas: se administrada com responsabilidade, de forma justa e colaborativa, trará benefícios econômicos para os países de todos os níveis de renda, inclusive novos postos de trabalho, um ar mais limpo, melhor saúde, menos pobreza e mais segurança energética.
Líder brasileiro do B-Team, o empresário Guilherme Leal, cofundador da Natura, defendeu “a criação de mecanismos para acabar com o desmatamento e promover a regeneração do meio ambiente” como “uma das maneiras mais eficazes para zerar as emissões líquidas”.
Essa meta exige que as empresas unam forças com os governos para impulsionar a transição, pelo estabelecimento de metas nacionais claras e o desenvolvimento de políticas que permitam deslocar capitais para alternativas livres de carbono e ajudem a levar para todos uma prosperidade inclusiva sustentável.
Para a coordenadora das negociações climáticas globais e secretária executiva da Convenção do Clima (UNFCCC), Christiana Figueres, “a meta de emissões líquidas zero até 2050 apresentada pelo B-Team desencadeará uma onda de ambição e de ação, mudará a aplicação do capital e criará enorme crescimento do emprego”.
O líder do B-Team e CEO da Unilever, Paul Polman, incentivou outros líderes a seguir o exemplo: “A meta de redução das emissões líquidas a zero até 2050 não é apenas desejável, mas necessária. Este é o momento de redobrar nossos esforços e acelerar ainda mais a descarbonização da nossa economia. Não vai ser fácil, mas quanto mais cedo agirmos maiores serão as oportunidades econômicas”.
Para Mary Robinson, Enviada Especial das Nações Unidas para a Mudança do Clima, “a transição para a emissão zero só terá êxito se for feita de maneira justa. A tecnologia necessária para o desenvolvimento sustentável deve ser disponível e acessível a todos os países. Sem isso, os países em desenvolvimento não terão alternativa senão seguirem usando fontes sujas de energia no seu processo de desenvolvimento, o que os amarrará em longo prazo a infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis, e nós vamos falhar na tentativa de garantir um clima futuro seguro. Mas, se conseguirmos, vamos fazer muito mais do que estabilizar o clima – vamos disponibilizar energia sustentável para todos, pôr fim à pobreza, melhorar a saúde global e criar um mundo mais próspero para os nossos filhos e netos”.
Richard Branson, fundador do Virgin Group e Co-Presidente do B-Team disse que “tomar medidas ousadas no combate às mudanças climáticas simplesmente faz sentido para os negócios. Também é a coisa certa a fazer para as pessoas e para o planeta. Definir como meta emissões líquidas zeradas até 2050 impulsionará a inovação, aumentará empregos, construirá prosperidade e garantirá um mundo melhor para as 9 bilhões de pessoas que em breve seremos. Por que deveríamos esperar mais tempo para fazer isso? É hora de unirmos forças e promover a transição para uma economia próspera com emissões líquidas zeradas em 2050”.
(Envolverde)