Uma sala de aula na escola pública Ibrahim Hazi, em Daca, capital de Bangladesh. Foto: Shafiqul Alam Kiron/IPS
Uma sala de aula na escola pública Ibrahim Hazi, em Daca, capital de Bangladesh. Foto: Shafiqul Alam Kiron/IPS

Nações Unidas, 13/4/2015 – Se você está lendo este artigo, considere-se uma pessoa afortunada. Teve a sorte de haver recebido uma educação, de ser alfabetizada em um mundo onde a capacidade de ler e escrever pode ser a diferença entre uma vida digna e a pobreza absoluta. Muitas coisas mudaram nos 15 anos transcorridos desde que 164 governos representados no Fórum Mundial sobre Educação, realizado em Dacar, capital do Senegal, acordaram seis ambiciosas metas educacionais no ano de 2000.
Agora há mais 34 milhões de estudantes graças às políticas adotadas com a iniciativa Educação para Todos (EPT). O número de meninos e meninas não escolarizados diminuiu pela metade desde 2000, e muitos países tiveram grandes avanços para a igualdade de gênero nas salas de aula.
No entanto, basta escavar um pouco e aparece uma realidade mais sombria. Segundo o último Informe de Acompanhamento da EPT no Mundo, publicado no dia 9 deste mês pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), “ainda há 58 milhões de crianças fora da escola no mundo e cerca de cem milhões que não concluíram o ensino primário.
“As crianças mais pobres do mundo têm quatro vezes mais probabilidades de não irem à escola do que as crianças mais ricas, e cinco vezes mais probabilidades de não concluirem o curso primário”, segundo a Unesco. “Apesar de todos os esforços dos governos, da sociedade civil e da comunidade internacional, o mundo não conseguiu a Educação para Todos”, acrescentou.
Nos seis objetivos acordados em Dacar, se propôs estender e melhorar a educação e a proteção da primeira infância; o ensino primário universal, gratuito e obrigatório; o acesso equitativo a um aprendizado adequado de jovens e adultos; a alfabetização da população adulta; a igualdade de gênero; e melhorar a qualidade da educação.
Embora a taxa de matrícula pré-escolar tenha melhorado em dois terços desde 1999, e a taxa de matrículas chegue a 93% no final deste ano, uma em cada seis crianças nos países de baixa ou média renda, aproximadamente um milhão de meninos e meninas no total, não irão à escola quando vencer o prazo para cumprir as seis metas, em 2015.
Apenas 69% dos países estudados terão conseguido a igualdade de gênero no primário até 2015, dado que cai para 48% na educação secundária. Embora os governos tenham acordado em 2000 reduzir pela metade o analfabetismo mundial, só foi conseguida uma queda de 4%.
Kátia Malouf Bous, assessora da organização humanitária Oxfam, radicada em Washington, disse à IPS que o informe de acompanhamento da Unesco revela “um saldo misto, muito desigual entre os diferentes países”. A maior desigualdade no acesso à educação e nos resultados educacionais é preocupante, e existe a urgente necessidade de “redobrar os investimentos na educação pública e garantir que estes tenham como objetivo as comunidades e as crianças adequadas”, acrescentou.
“A previsão é de que o custo total anual de alcançar a educação pré-escolar, primária e secundária, nos países de renda baixa e média, aumentará de US$ 100 bilhões em 2012 para US$ 239 bilhões, em média, entre 2015 e 2030”, afirma um documento da Unesco datado de março deste ano. Esse déficit demonstra que a maioria dos governos não destina 20% de seus orçamentos nacionais, ou 4% do produto interno bruto anual, como se requer para a educação.
“Uma coisa que na verdade nos preocupa é a tendência do Estado de derivar algumas de suas responsabilidades para o setor privado, e de se centrar em que as escolas privadas de baixo custo deem educação”, assinalou Bous. “Isso só aprofunda as desigualdades educativas, sobretudo na região da Ásia, onde muitas das iniciativas impulsionadas pelos doadores apoiam as escolas privadas de baixo custo, que basicamente têm fins lucrativos e cobram mensalidades das famílias mais pobres”, acrescentou.
Cerca de quatro bilhões de pessoas vivem na região Ásia-Pacífico, caracterizada pela desigualdade, algo que só se agravará se os governos não tomarem as medidas necessárias para educar a população. Atualmente, um terço de todos os estudantes de seis a 18 anos no sul da Ásia frequenta escolas particulares. Um estudo realizado este ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que mais de 40% dos adolescentes que abandonaram o sistema educacional vivem no sul da Ásia, e que o Paquistão sozinho responde por metade dessa cifra.
Em um informe regional de 2014, sobre os avanços da iniciativa Educação para Todos, a Unesco indicou que cinco dos países E-9, definidos como os Estados em desenvolvimento mais povoados do mundo, ficam na Ásia: Bangladesh, China, Índia, Indonésia e Paquistão. Juntos representam 45% das matrículas totais mundial na educação primária e 80% das matrículas totais da região Ásia-Pacífico em 2009, segundo o Unicef.
Embora esses Estados tenham avançado muito em matéria educacional, milhões de seus jovens não vão à escola, a maioria dos quais não recebeu uma educação adequada. Isso tem importantes consequências para a saúde econômica da região, que em 2014 abrigava 64% dos adultos analfabetos do mundo, ou cerca de 497 milhões de pessoas.
Dez países da região alcançaram o ensino primário universal, com matrículas superiores a 99%, e outros nove o conseguirão até o final do presente ano, de acordo com a Unesco. Mas Bangladesh, Birmânia, Camboja, Laos, Nepal, Paquistão e Ilhas Salomão têm dificuldades para reter os estudantes até o último ano da escola primária, e muito mais para garantir sua inscrição no ensino secundário. Envolverde/IPS
(IPS)