capagreenpeaceimpending 217x300 Greenpeace destaca efeitos do desmatamento no clima e agricultura
Um novo relatório publicado nesta semana pelo Greenpeace Internacional afirma que muitos modelos mostram que há consenso científico de que o desmatamento pode prejudicar o clima em níveis local, regional e global, embora ainda haja muita incerteza sobre como isso acontece.
Além dos impactos já previstos para regiões como a Amazônia, o desmatamento pode afetar a temperatura, padrões de precipitação e ciclos de monções fora dos trópicos, o que pode prejudicar a agricultura e a disponibilidade de recursos hídricos também nestes locais.
O documento é uma coletânea de dezenas de artigos científicos recentes que analisam os efeitos do desmatamento nos padrões climáticos e produtividade agrícola.
Entre os exemplos avaliados pelo relatório estão as florestas amazônica, do oeste da África, do sudeste da Ásia e florestas boreais por todo a mundo.
Na floresta amazônica, por exemplo, o documento sugere que o desmatamento pode fazer com que as chuvas anuais diminuam entre 10% e 20%, embora deva haver diferenças entre cada região. O norte da bacia amazônica deve se tornar mais seco, com uma diminuição média de precipitação de 2mm/dia, enquanto o sudeste deve se tornar mais úmido.
Segundo o relatório, o risco de enchentes aumentou 25% por causa da conversão de florestas em agricultura nos últimos 40 anos, e deve crescer ainda mais. A elevação da temperatura na floresta amazônica deve ser de cerca de 2ºC, embora os eventos frios possam se tornar três vezes mais frequentes no sul e oeste da América do Sul. Impactos na agricultura, principalmente no cultivo do café, milho, soja e trigo, deverão ser sentidos devido à diminuição de chuvas e a eventos de frio extremo.
E os efeitos não serão apenas locais; o desmatamento na Amazônia deve diminuir em 25% a precipitação no Texas, mas deve aumentar as chuvas na península arábica em 45%, e também no norte da Europa.
Na África, o desmatamento pode influenciar na redução da precipitação em 1mm/dia em certas regiões, sendo de 2-3mm/dia na estação seca; contudo, enquanto Moçambique deve ter uma redução nas precipitações, Botsuana, Zâmbia e o sul da República Democrática do Congo apresentarão aumento nas chuvas.
Já as temperaturas locais da superfície das terras africanas subirão entre 1,2ºC e 2,4ºC com o desmatamento no sul do Sudão. As monções do oeste africano enfraquecerão após a perda das florestas ocidentais da África, e a produção agrícola no oeste do Quênia deve diminuir após a queda nas chuvas, ligada à perda florestal.
A retração das florestas na África também deve ter influências em outros continentes: os modelos sugerem que haverá uma diminuição de 5% a 35% na precipitação do meio-oeste norte-americano, o que pode impactar as colheitas e o fornecimento de alimentos.
Já na Ásia o desmatamento deve levar a uma redução de 1 mm/dia nas chuvas, com o sul da China e o Vietnã tendo uma perda de 20% a 30% na precipitação. Os modelos indicam também um aumento regional na temperatura atmosférica de 1ºC caso haja desmatamento completo no continente.
Neste caso, as monções asiáticas devem se tornar mais fracas no leste da China e no Mar da China Meridional, mas devem ficar mais fortes no Sudeste da Ásia. Já as temperaturas da superfície dos oceanos poderiam diminuir 1,25ºC no sul do Oceano Índico, mas aumentar 0,75ºC no sul do Oceano Pacífico.
A remoção de manguezais deve expor comunidades inteiras às influências das marés como ciclones e tsunamis. Já a fumaça de incêndios relacionados ao desmatamento deve contribuir para a poluição atmosférica nas cidades, principalmente as do sudeste da Ásia.
Também o desmatamento das florestas asiáticas deve ter consequências em outros locais: a diminuição de 20% a 25% na precipitação no oeste da Turquia, o aumento de tempestades na Escandinávia, mudanças nos locais de tempestades na Europa, o resfriamento de 1ºC na Sibéria, e o aumento de temperaturas no Canadá e na África Central.
“Os modelos sugerem que a perda de florestas em áreas tais como Amazônia e África Central podem reduzir severamente a precipitação no meio-oeste dos EUA em um momento em que a água é crucial para a produtividade agrícola nessas regiões”, afirma o relatório.
“Empregar o princípio da precaução e conservação dos ecossistemas florestais existentes em uma pegada ‘Desmatamento Zero’ é a única forma de garantir que as florestas continuem a regular nosso clima, minimizem os efeitos indiretos do desmatamento e conservem a biodiversidade”, concluiu o documento.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)