infograficoxisto Gás de xisto é ponto de discussão entre especialistas
Apresentado como a grande razão para a recuperação econômica recente dos Estados Unidos, a exploração do gás de xisto e os seus riscos começam a ser discutidos no Brasil, gerando muitas controvérsias.
Apesar de todas as principais agências internacionais apontarem o crescimento dos investimentos em fontes renováveis de energia, elas também reconhecem que a injeção de recursos em combustíveis fósseis não convencionais, como o gás de xisto, também está aumentando.
Entre 2007 e 2012, a extração do gás de xisto cresceu, em média, 50% ao ano, estima o McKinsey Global Institute. Este combustível é considerado como o grande responsável pela recuperação da economia norte-americana – revolucionando o setor de geração de energia – e até mesmo pela queda nas emissões de gases do efeito estufa do país.
A Agência Internacional de Energia (AIE) chega a colocar o gás de xisto como uma das alternativas para cortar as emissões causadas pelo carvão em países onde ainda não é muito empregado, como na Europa, apesar de defender a redução dos subsídios para combustíveis fósseis.
No Brasil, muitas empresas estão enxergando este filão do mercado energético e correndo atrás do que poderá vir a compor boa parte da matriz do país. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) decidiu incluir na sua próxima licitação, em novembro, o gás de xisto retirado de bacias sedimentares brasileiras.
O diretor-presidente da Compagas, a concessionária responsável pela distribuição do gás natural canalizado no Paraná, Luciano Pizzatto, esteve na semana passada no Congresso Brasileiro de Direito Socioambiental e Sustentabilidade (CBDSS), em Curitiba, apresentando suas conclusões sobre visitas realizadas em campos de exploração nos Estados Unidos.
A sua visão é especialmente otimista, ressaltando a importância para a economia norte-americana desta nova fonte de energia, extraída a partir do fraturamento (‘fracking’) de rochas que contem o gás entre suas camadas.
“É uma revolução energética que está acontecendo”, colocou Pizzatto.
No ano passado o gás natural custava quatro vezes menos nos Estados Unidos do que na Ásia, tudo devido a enorme oferta de gás de xisto, que em abril chegou a custar apenas US$ 1,8 por milhão de BTUs (e hoje está em torno de US$ 4).
Porém, a tendência que este custo suba devido a divulgação de mais dados sobre os impactos ambientais do ‘fracking’ já é constatada por especialistas, como a Bloomberg New Energy Finance (BNEF).
Cenário desfavorável
Durante o evento em Curitiba, o físico Fritjof Capra – que palestrou sobre as suas teorias da ‘Teia da Vida’ e o pensamento sistêmico – criticou a exploração do gás de xisto, classificando como uma tecnologia “extremamente perigosa”.
Ele explicou que os produtos químicos injetados nas rochas para retirar o gás estão causando doenças difíceis de tratar, pois as empresas não divulgam quais são os elementos utilizados. Se houver a exploração deste gás no Brasil, o físico recomenda que haja muito mais transparência.
Entretanto, Capra ressalta que o custo baixo do gás de xisto é apenas uma ilusão, pois o valor dos impactos ambientais e à saúde não está sendo contabilizado.
“O fracking não é barato, pois os custos à saúde são tremendos”, disse.
Pizzatto reconheceu que “a possibilidade de contaminação existe”, mas que não conseguiu identificar um risco “muito elevado”. Para ele, ainda estão sendo discutidos quais são e como atuam esses produtos químicos utilizados no fracking.
Ele comentou sobre o problema que a proteção de patentes nos Estados Unidos é muito grande e não se permite a divulgação dos produtos, mas que no Brasil as leis são mais abertas.
“No Brasil vai depender da nossa capacidade de policiar e de adotar precauções para minimizar os riscos”, argumentou.
Nesta semana, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) enviaram uma carta à presidente Dilma Rousseff solicitando a suspensão da licitação para a exploração do gás de xisto.
No Brasil, o gás de xisto é encontrado nas bacias sedimentares, como do Paraná, do Parnaíba, do Solimões e Amazonas, do Recôncavo e do São Francisco. A SBPC e a ABC mostram uma preocupação especial Aquífero Guarani, a maior fonte de água doce de ótima qualidade da América do Sul, onde boa parte das reservas de gás/óleo de xisto se encontram.
“A tecnologia de extração de gás está embasada em processos invasivos da camada geológica portadora do gás, por meio da técnica de fratura hidráulica, com a injeção de água e substâncias químicas, podendo ocasionar vazamentos e contaminação de aquíferos de água doce que ocorrem acima do xisto”, alerta a carta.
O pesquisador Luiz Fernando Scheibe, doutor em Ciências (Mineralogia e Petrologia) da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenador da REDE GUARANI/SERRA GERAL, ressalta que ainda sabemos muito pouco para podermos explorar com segurança o gás de xisto.
Em uma entrevista recente ao CarbonoBrasil, Scheibe apontou os riscos dessa atividade para o Aquífero Guarani e defendeu uma moratória de cinco anos para “aprofundar o conhecimento dessas reservas, bem como os estudos sobre os reais prejuízos ambientais dessa perigosa técnica.”
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)