Fabricantes de pesticidas gastam milhões para ocultar desaparecimento de abelhas
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Fabricantes de pesticidas gastam milhões para ocultar desaparecimento de abelhas



abelha morta

Dois neonicotinoides amplamente usados na fabricação de pesticidas parecem prejudicar seriamente as colônias de abelhas,  segundo um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard. Em abril de 2015, a revista Science publicou dois estudos adicionais que corroboram as descobertas de Harvard sobre neonicotinoides utilizados no tratamento de sementes para mais de 140 cultivos. Estes pesticidas sistêmicos fabricados pela BayerSyngenta e Monsantosão absorvidos pelas raízes e folhas e distribuídos através de toda a planta, incluindo seu pólen e néctar.
A reportagem é publicada por Mapocho Press, 01-11-2015. A tradução é de André Langer.
Para os polinizadores, a exposição de baixo nível pode levar a efeitos subletais, como alteração de aprendizagem, deficiência na busca de alimentos e imunosupressão; a exposição a níveis superiores pode ser letal.
Em resposta à evidência científica deste tipo, as três principais empresas produtoras de pesticidas – BayerSyngentaMonsanto – participam de campanhas massivas de relações públicas, efetuadas a um custo que ultrapassa os 100 milhões de dólares e empregando táticas similares àquelas utilizadas durante décadas pelas grandes fumageiras para negar os efeitos perniciosos na saúde pública.
Como informara Michele Simon em um estudo da Friends of the Earth (Amigos da Terra), estas táticas incluem a criação de distrações para culpar qualquer coisa, menos os inseticidas, pelos colapsos documentados nas populações de abelhas, incluindo, por exemplo, acusações contra os agricultores por suposto mau uso dos pesticidas. Estas empresas também atacam os cientistas e jornalistas para desacreditar suas conclusões.
Ao mesmo tempo, BayerSyngenta e Monsanto tentam comprar credibilidade mediante o cultivo de alianças e associações estratégicas com agricultores, apicultores e organizações agrícolas com a esperança de se representarem como “amigos das abelhas”. Assim, por exemplo, a Monsanto anunciou a formação de um Conselho Assessor da Abelha Melífera, uma aliança estratégica de executivos da Monsanto e outros. A Associação Britânica de Apicultoresrecebeu um importante financiamento da BayerSyngenta e outras empresas de inseticidas. Em troca, os inseticidas foram aprovados como “amistosos com as abelhas”.
Como relatou Rebeca Wilce para a PR Watch, “em vez de agir sobre um problema que ameaça a produção de alimentos em todo o mundo, as empresas de inseticidas pegaram uma página do manual de jogadas da indústria do tabaco para aumentar de maneira gradual os esforços para semear dúvidas sobre a magnitude do problema e sobre o seu próprio potencial papel na crise”. Na contramão, assinalou Wilce, a União Europeia colocou em prática uma proibição de dois anos para o uso dos três neonicotinoides mais comuns: imidacloprid, clotianidina e tiametoxam.
Escrevendo para a Wired, em junho de 2014, Brandom Keim informou sobre outro estudo daFriends of the Earth que mostra as floriculturas de grandes lojas da América do Norte, incluindo Home DepotLowe e Walmart, vendendo plantas com propaganda de ‘ostensivamente amigáveis com as abelhas’, mas que, na verdade, contêm altos níveis de neonicotinoides. O estudo descobriu que 36 de 71 (51%) amostras de plantas de jardim compradas nas principais floriculturas de 18 cidades dos Estados Unidos e Canadá continham pesticidas neonicotinoides. 40% das amostras positivas continham dois ou mais tipos de neonicotinoides. “Infelizmente”, escreveram os autores do relatório, “os jardineiros residenciais não têm ideia de que na realidade podem estar envenenando os polinizadores através de seus esforços para plantar jardins amistosos com as abelhas”.
Embora os principais meios de notícias, por exemplo, o New York Times, o Washington Post e a National Public Radio publicaram dois anúncios de capa com marca Nature sobre os efeitos negativos dos neonicotinoides nas abelhas, mas não informaram sobre as campanhas de relações públicas da BayerSyngenta e Monsanto, que têm como objetivo minar as conclusões dos estudos científicos e desviar a culpa dos pesticidas.
Do mesmo modo, esses meios de imprensa cobriram o anúncio da Lowes de que já não venderá mais produtos que contenham neonicotinoides, mas não informaram que as plantas “amistosas com as abelhas” vendidas nas floriculturas nos Estados Unidos na realidade podem estar enganando os clientes bem intencionados e expondo os polinizadores aos neonicotinoides em seus próprios jardins familiares.
Fonte:
Michele Simon, “Follow the Honey: 7 Ways Pesticide Companies Are Spinning the Bee Crisis to Protect Profits,” Friends of the Earth, April 28, 2014, http://www.foe.org/news/blog/2014-04-follow-the-honey-7-ways-pesticide-companies-are-spinning-bee-crisis .
Rebekah Wilce, “Pesticide Firms Use Tobacco Playbook to Spin Bee Crisis,” PR Watch, Center for Media and Democracy, May 12, 2014, http://www.prwatch.org/news/2014/05/12468/pesticide-industry-uses-big-tobacco-playbook-spin-bee-crisis#sthash.gy3guWE9.dpuf.
Timothy Brown et al., “Gardeners Beware 2014: Bee-Toxic Pesticides Found in ‘Bee-Friendly’ Plants Sold at Garden Centers across the U.S. and Canada,” Friends of the Earth, June 2014,http://www.foe.org/projects/food-and-technology/beeaction.
Brandon Keim, “How Your Bee-Friendly Garden May Actually Be Killing Bees,” Wired, June 25, 2014,http://www.wired.com/2014/06/garden-center-neonicotinoids.
FONTE : (EcoDebate, 23/11/2015) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]




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