Universo Energético
Exportações brasileiras e a perda de competitividade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] Do ponto de vista da macroeconomia (sem considerar o lado ambiental), vários países sairam da pobreza adotando uma estratégia de crescimento via aumento das exportações (export-led growth). O Japão e os Tigres Asiáticos fizeram isto, a partir dos anos de 1950, e se deram bem. Tornaram-se países desenvolvidos e com alta qualidade de vida. A China adotou a estratégia export-oriented industrialization a partir de 1980 e manteve um crescimento do PIB por volta de 9% ao ano, durante 35 anos. Hoje, medida em poder de paridade de compra (ppp), a China é a maior economia do mundo e caminha para ter uma renda per capita superior a brasileira.
O Brasil adotou a estratégia de substituição de importações, fechou sua economia e se descuidou da competição internacional. Proteger o mercado interno durante o início do desenvolvimento é uma prática generalizada, mas ficar dependendo do protecionismo eternamente é um caminho para o fracasso. O Brasil apresentou diversos avanços no passado, mas, atualmente, a perda de produtividade da economia brasileira é evidente. O Brasil perde espaço nas exportações mundiais como mostra o gráfico acima. Entre 1950 e 1986 o Brasil exportava mais do que a China e mais do que Cingapura. Mas desde 1987 o Brasil tem diminuído participação relativa no mercado global e, em 2014, Cingapura (que tem uma população de 6 milhões de habitantes e a extensão territorial da cidade do Rio de Janeiro) exportou quase o dobro do Brasil, enquanto a China exportou mais de 10 vezes.
Em 1950, as exportações brasileiras representavam 2,2% do total global, caindo para 1,2% em 2014, enquanto Cingapura teve participação de 2,2% e a China com 12,4%, no mesmo ano. A China foi o caso mais impressionante do mundo, pois estava na miséria na década de 1960, passou por uma série de reformas na década de 1970 e decolou a partir de 1980, sendo que o comércio internacional foi fundamental para o sucesso econômico chinês (com fracasso ambiental). Já o Brasil assiste o declínio de sua participação no comércio internacional, que pode cair para menos de 1% em 2015 ou 2016.
As exportações brasileiras cresceram bastante durante o período do boom internacional das commodities, que ocorreu de 2002 a 2011. Neste período as exportações brasileiras passaram de US$ 60,4 bilhões para US$ 256 bilhões, mesmo com o Real valorizado. Um salto de quatro vezes na esteira do boom do preço dos produtos básicos. Porém, as exportações do Brasil caíram para US$ 225 bilhões em 2014 e devem ficar por volta de US$ 190 bilhões em 2015, voltando para valores abaixo daqueles de 2008. Houve involução do comércio internacional brasileiro, a despeito da grande desvalorização cambial recente.
O Brasil é um dos países onde as vendas ao exterior menos contribuem para o PIB. Em 2014, as exportações representaram 11,5% da soma de bens e serviços produzidos pelo país. Foi o sexto menor percentual entre 150 países analisados, segundo levantamento do Banco Mundial. O Brasil só ficou à frente apenas do Afeganistão, Burundi, Sudão, República Centro-Africana e Kiribati. E bem abaixo da média global, de 29,8% do PIB. A China registrou exportações de US$ 2,7 trilhões nos nove primeiros meses de 2015, com um superávit comercial maior do que as reservas brasileiras.
A diplomacia brasileira além de apoiar o processo de reprimarização das exportações, especialmente para a China e BRICS, buscou apoio de países pequenos e sem grandes expressões no comércio mundial. Enquanto isso, os Estados Unidos e mais 11 países fecham o maior acordo comercial regional da história – a Parceria Transpacífico (TPP). O acordo abrangerá 40% da economia global, e inclui, além dos EUA, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Perú e Vietnã. Ficar de fora deste bloco pode dificultar uma melhor inserção brasileira nas transações internacionais. Em ambas as situações há uma grande preocupação com as questões ambientais, que não costumam estar em primeiro lugar nas negociações comerciais.
Neste momento de estagflação da economia brasileira, o crescimento das exportações poderia ser uma alternativa para obter receitas cambiais e aumentar o emprego. Isto poderia ter um efeito multiplicador para retirar o país da recessão. Porém, a perda de competitividade e a falta de políticas adequadas tem feito o Brasil regredir sua participação nas exportações mundiais. Neste ano, as exportações somaram 144,5 bilhões de dólares de janeiro a setembro e as importações totalizaram 134,6 bilhões de dólares. O saldo está em US$ 10 bilhões e pode chegar a US$ 15 bilhões até o final de 2015. A queda do preço internacional do petróleo foi fundamental para o melhor desempenho da balança comercial brasileira.
Gerar saldos comerciais positivos é bom para o país, mas o ajuste está sendo feito pela queda das importações e não pelo aumento das exportações. O baixo dinamismo da exportação brasileira é uma péssima notícia para o país que precisa ter uma alternativa para a armadilha da estagflação. O Brasil poderia mirar no exemplo dos países do leste asiático (desde que também cuidasse do meio ambiente).
Decrescimento recessivo, com poluição e aumento da pobreza não é bom para ninguém (“Su recesión no es nuestro decrecimiento”). O que não dá é para ficar nesta pasmaceira.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
in EcoDebate, 04/11/2015
"Exportações brasileiras e a perda de competitividade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in Portal EcoDebate, 4/11/2015,http://www.ecodebate.com.br/2015/11/04/exportacoes-brasileiras-e-a-perda-de-competitividade-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
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