Dronês: O Léxico da Drone-Língua (de Bugsplat a Targeted Killing)
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Dronês: O Léxico da Drone-Língua (de Bugsplat a Targeted Killing)



Drones. [lit. Zangão. O zumbido do zangão (?)] A palavra tem lá seus fãs (sobretudo na imprensa dita ‘de notícias’) e lá seus detratores (incluindo o subsecretário geral da ONU para preservação da paz). O mesmo se diz dos usos dos drones  para matar gente.

Mas quando se começa a examinar o termo e suas muitas variações, o dronês, a drone-língua dos drones, parece que existe mais para encobrir e obscurecer do que para iluminar e esclarecer.

Nem chega a ser propriamente surpresa em tempos em que expressões como “entrega extraordinária” [ing. dronês = “extraordinary rendition” (essa já está dicionarizada no Cambridge Dictionary = sequestro de prisioneiros e entrega em outros países, para serem torturados, nos casos em que tortura seja crime no país dos sequestradores)] e “interrogatório reforçado [ing. dronês “enhanced interrogation” (tortura)] são agora parte do vocabulário político.

Aqui vai um pequeno glossário, para ajudá-los a compreender o debate sobre os drones.


Veículo Aéreo Não Tripulado [ing. Unmanned aerial vehicle, UAV] é como os militares preferem chamar os drones. “Veículo Aéreo Não Tripulado de Combate” é usado para caracterizar os drones que usam armas disparadas à distância. [É claro que o veículo é tripulado; é tripulado à distância, com um joystick, como em videogames. Mas o nome é “Não Tripulado”, só para vê-sengana-os-trôxa (NTs)]

Segundo o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA, os militares norte-americanos têm hoje [em 2013] cerca de 7.500 drones, dos quais cerca de 375 são armados. Na ONU, que criticou programas de drone, até a palavra já está proibida.

Essa semana, por exemplo, o subsecretário-geral para operações de manutenção da paz, Herve Ladsous, ao ser perguntado se a ONU tem planos para usar drones na vigilância na República Democrática do Congo, respondeu: “Eu não usaria nem a palavra drones.” Explicou aos repórteres que ele, pessoalmente, prefere “veículos aéreos não tripulados”.

O PREDADOR [Predator]: Drone fabricado pela General Atomics, em uso desde 1995, tem alguns modelos armados desde o início de 2001. O nome sugere que o alvo não seja humano, mera presa de um predador qualquer – como observou John Sifton da ONG Human Rights Watch. Também se lê a palavra “predador” nas páginas policiais, aplicada a assassinos seriais.

MQ-9 Reaper da Força Aérea dos EUA, veículo aéreo não tripulado, prepara-se para decolar da pista militar de Wheeler-Sack no Forte Drum, N.Y. dia 18/10/2011
(Staff Sgt. Ricky Best/USAF/Reuters)

Orwell e a drone-língua 

Em 1946, muito antes de a maioria dessas palavras e frases começarem a ser usadas, George Orwell escreveu que “o discurso político falado e escrito quase sempre existe para fazer a defesa do indefensável” e que “tem de vir sempre cheio de eufemismos, de platitudes, de nada-com-coisa-alguma e da mais nebulosa vagueza.”

Orwell escreveu naquele ensaio “Política e a Língua Inglesa”, que a língua política “é prevista para fazer as mentiras soarem como verdades, o assassinato como ato respeitável, e para dar ao mais puro vento aparência de solidez” (George Orwell, Política e a Língua Inglesa, 1946).

O CEIFADOR [Reaper]: Versão posterior, maior, do Predador, também construído pela General Atomics, em operação desde 2007.

Sifton observa que esse nome “é um ícone. Implica que os EUA seriam o próprio destino, a Morte em pessoa, ceifando a vida dos inimigos destinados a morrer.”

Míssil Fogo Infernal, o Hellfire missile: Drones Predadores e Ceifadores disparam mísseis Fogo Infernal AGM-114 Hellfire contra seus alvos. Sifton diz que o nome dos mísseis de mais de 1,5m de comprimento invoca “o castigo pós-morte, acrescentando à violência brutal um toque de punição bem merecida.”

Ninho de couro sintético para onde levamos nossas bonequinhas [nosso Naugahyde Barcalounger]: É como os pilotos [de joysticks] chamam as poltronas do cockpit onde sentam na sala do centro de comando de joysticks da Base Aérea de joysticks em Creech, Nevada, de onde pilotam os drones que voam sobre o Afeganistão e outros locais.

Quando os pilotos [de joysticks] em solo, dentro da estação de controle de onde disparam contra seus alvos, veem, numa das telas, que acertaram o alvo [ou qualquer coisa que se mova perto dos alvos], eles gritam “Splash!” [onomatopeia para “[qualquer coisa] esmagada”], segundo o Los Angeles Times.

Bugsplat: É o nome do software do Departamento de Defesa dos EUA para “calcular e reduzir dano colateral” (número de civis mortos) resultante dos ataques aéreos.

O programa Bugsplat foi usado pela primeira vez na guerra do Iraque em 2003. Naquele momento, oficiais disseram ao Washington Post que o programa “vai modelar com mais precisão o dano potencial gerado por dado tipo e tamanho de bomba lançada de dada aeronave que voe a dada altitude”. A CIA também usa esse software Inseto Esmagado.

Ataque vistado, ou ataque assinado (Signature strike) [É diferente de “personality strike”, quando os EUA planejam ataque para matar uma determinada pessoa]: É o termo em dronês dos EUA para ataque premeditado letal contra indivíduo cuja identidade pode até ser desconhecida, mas cujo jeitão enquadra-se num padrão que sugira à CIA ou a militares norte-americanos que aquele indivíduo esteja envolvido em atividades militantes ou terroristas.

Os primeiros ataques assinados para os quais se usaram drones aconteceram no Paquistão em 2008, assinados pelo presidente George W. Bush.

O número desses ataques vinha caindo no Paquistão desde 2010. Até que em 2012 o presidente Barack Obama assinou ataques assinados cometidos no Iêmen.

O New York Times noticia que a Casa Brancacontabiliza como combatentes todos os homens em idade de serviço militar visto em zona de ataque, segundo vários funcionários do governo.” A CIA usa também o termo “matança em praia lotada” (“crowd killing”) para designar ataques vistados ou assinados.

Matança de alvo definido [Targeted killing]: A expressão refere-se a assassinato premeditado de indivíduo determinado. Também conhecido como “execução extrajudicial”.

John Brennan, que o presidente Obama nomeou para dirigir a CIA foi o principal autor da estratégia de Obama para matança de alvo definido.

Dentre alvos definidos para matança estiveram Anwar al-Awlaki, cidadão norte-americano e propagandista da al-Qaeda, morto num ataque por drone no Iêmen em 2011. Outro alvo definido para matança por drone em 2009 foi Baitullah Mehsud, líder do Talibã no Paquistão e suspeito de ter sido responsável pelo assassinato da ex-primeira ministra Benazir Bhutto.

Mehsud escapara vivo de pelo menos 16 operações de matança [de alvo definido] em 14 meses, antes de ser morto; nessas operações morreram algo entre 280 e 410 pessoas, conforme estimativas da New America Foundation, think-tank de Washington.

Matriz de Disposição [“disposição”, no sentido em que se diz “disposição de lixo”, “disposição de detritos”, “disposição de esgotos”] (Disposition matrix): É o banco de dados supervisionado por Brennan, para potencializar os resultados de “listas de matar” [kill lists] separadas, mas que se superpõem” mantidas pela CIA e pelos militares. A matriz de disposição inclui “biografias, locações, amigos e conhecidos, além de organizações, aos quais o alvo do qual se disporá [como lixo] seja conectado”, além de “estratégias para derrubar alvos, incluindo pedidos de extradição, operações de captura e patrulhamento por drones,” segundo o Washington Post, primeiro veículo a publicar o nome do banco de dados.

Ameaças Iminentes [Imminent threats]: Na sabatina pela qual passou antes de assumir o comando da CIA, 5ª-feira passada, Brennan disse que o governo usa ataques com drones apenas para conter ameaças iminentes de terroristas contra os EUA. Para conseguir matar Mehsud no Paquistão, a estratégia teve de ser complementada para incluir soldados dos EUA.

O documento do Departamento de Justiça que vazou essa semana para a rede NBC News explica como a definição de “ameaça iminente” está sendo alargada: “Para que algum líder de operações apresente uma ‘iminente’ ameaça de ataque violento contra os EUA não se exige que os EUA tenham prova clara de que qualquer específico ataque contra pessoas ou interesses norte-americanos esteja para acontecer no futuro imediato.”

Jameel Jaffer, do Sindicato Norte-americano pelas Liberdades Civis disse à rede NBC News que a política de Obama reconhece “alguns limites à autoridade que ela mesma cria, mas os limites são definidos de modo vago e elástico. É fácil ver como podem ser manipulados.” *****

Referências:

(1) Do Dicionário Cambridge # Bugsplat not found
(2) Bug splat [lit. inseto esmagado] is the official term used by US authorities when humans are killed by drone missiles Tom Hayden: 'BUG SPLAT': THINK TANK, REP. ELLISON CALL FOR DRONE REFORM
(2a) Inseto esmagado [ing. bugsplat] é o termo oficial usado pelas autoridades norte-americanas, quando humanos são mortos em ataque por armas disparadas à distância [drones]

Traduzido por Vila Vudu

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Fontes:
CBC: Drone-speak lexicon: from 'Bugsplat' to 'Targeted killing'






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