Aberto pelo violino e pela voz de “Earth in Brackets”, o painel “Intergeracional Inquiry” foi um dos principais eventos do dia 4 de novembro na COP 20: o Dia do Jovem e das Futuras Gerações. Um jornada dedicada às aspirações e necessidades das jovens gerações. Compondo um terço de toda a população mundial, as jovens gerações herdam nosso planeta e, por isso, merecem um lugar especial em eventos da UNFCCC.
Em seu sétimo ano de realização, o debate “Intergeracional Inquiry” serviu, neste momento, principalmente para ilustrar o extenso trabalho realizado durante a COY10, a Conferência Internacional dos Jovens em preparação à COP20 no vizinho campus da Universidade La Molina.
Os expositores destacaram o fato de que a COY10 aconteceu graças aos esforços de mais de 80 estudantes peruanos, totalmente voluntários; muitos deles lidando pela primeira vez com encontros internacionais. A maioria deles sequer dominam a língua inglesa, a principal em eventos dessa natureza. Após 10 meses de preparação, eles foram capazes de gerenciar um evento de três dias que recebeu cerca de 900 pessoas de todo o mundo. O objetivo final da COY10 foi construir uma “Declaração da Juventude” abrangente e detalhada, em 14 pontos, explicando as posições da juventude em todos os tópicos que seriam negociados alguns dias depois nas tratativas oficiais. Trata-se d o mais poderoso instrumento pelo qual a juventude pode se envolver diretamente no processo da UNFCCC.
Raquel Rosenberg, da ONG brasileira Engajamundo, enfatizou os esforços que têm sido tomados para se alcançar este resultado: dinamizando a coordenação, ultrapassando as barreiras linguísticas – a grande maioria das pessoas na América Latina não fala Inglês – o que têm sido muitas vezes uma ferramenta eficaz para segregar uma grande parte da sociedade, incluindo os jovens, das discussões. “As coisas foram mudando desde a Rio + 20, quando os jovens dos hemisférios Norte e Sul uniram suas energias e compartilharam seus conhecimentos para definir e alcançar objetivos comuns: a participação direta da juventude e uma posição comum a fim de aumentar o poder do diálogo”, testemunhou Raquel.
“Nós não pretendemos ser negociadores: agimos de forma a tornar explícitas as demandas da juventude e deixar um legado para as gerações futuras. Os negociadores não entendem o ponto mais importante: que é nossa vida e a vida de seus filhos que estão em jogo”, disse Raquel. Uma manifestação geral de consenso veio do público depois que ela discursou: “A negociação sobre mudança climática não é um negócio. Nós precisamos cortar 80% do consumo de combustível fóssil. Hoje em dia, os homens dos documentos são os novos homens da guerra. Palavras, frases e declarações são suas armas. Eles estão escondidos entre linhas e entre parênteses. Mas a nossa vida não está à venda”.
Um dos oradores, responsável pela COY11 em Paris, também anunciou as palavras-chave para a estratégia da juventude em Paris quando será assinado um novo acordo sobre o clima. São elas: solidariedade acima de nacionalidades, inclusão de todos e ação intergeracional, uma vez que uma mudança imediata é urgente e exige “mãos dadas” com a atual geração de políticos e delegados.
Infelizmente, tendo estourado o tempo, o painel não pôde ouvir a voz da juventude indígena: seria um sinal dos nossos tempos? Esperemos que não.
* Luiza Winckler é repórter da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação. Todo o conteúdo produzido pela agência durante a COP20 será publicado pela Envolverde neste espaço. Acompanhe!
(Agência Jovem de Notícias)