Alertas do Deter apontam tendência de aumento de desmatamento na Amazônia. O número divulgado é 9% superior ao do período anterior. E agora candidatos?
Os alertas de desmatamento da Amazônia subiram mais de 9% entre agosto de 2013 e julho de 2014, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo o Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real), sistema oficial utilizado para suporte à fiscalização e controle do desmatamento, foram detectados alertas em 3.035 quilômetros quadrados na Amazônia. O Deter não mede taxas de desmatamento, que são feitas pelo sistema Prodes, mas indica a tendência que os números consolidados seguirão.
No final de 2013, a primeira medição do desmatamento feita pelo Prodes (Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites) após a aprovação do novo Código Florestal já havia registrado aumento de 28%. Lamentavelmente agora, o Deter nos indica que há uma tendência continuada de aumento.
No Pará o aumento dos alertas de desmatamento foi de 22%, saltando de 787,33 km2 para 963, 71 km2. O foco de alerta de grandes desmatamentos se encontra na região de Novo Progresso, ao longo da BR-163, detectados especialmente entre junho e julho de 2014. A rodovia que liga Cuiabá a Santarém é um vetor de desmatamento na região desde que seu asfaltamento foi anunciado, há dez anos. Agora, com a maior parte da BR asfaltada aliada à baixa execução das ações do Plano BR-163 Sustentável, acentua-se o desmatamento causado pela grilagem, pecuária, exploração madeireira. Já no Mato Grosso houve queda de quase 17% nos números. Focos de alertas de desmatamento foram identificados pelo DETER ao longo da BR 163, especialmente em Novo Progresso e Altamira, no PA
Os municípios que lideram em número de alertas são Porto Velho – RO, Altamira – PA, Lábrea – AM e Colniza – MT. Somente no Pará, foram mais de 574 alertas totalizando 743,6 km2 concentrados em quatro municípios – Altamira (226), Novo Progresso (140), Itaituba (111) e São Félix do Xingu (97). Os dois municípios do Pará que registraram agora os maiores números de alertas foram os mesmos que, há duas semanas, lideraram o número de queimadas na floresta.
“No chão da floresta, porém, não são apenas as árvores que tombam. O desmatamento e a falta de presença do governo deixam para trás um rastro de destruição ambiental e de vidas”, afirma Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace.
“Quanto mais desmatamento, mais mortes. O desmatamento nunca parou. Ele só mudou de estratégia”, sentencia Claudelice Santos, irmã de José Cláudio Ribeiro, extrativista e liderança comunitária do Pará que, junto com sua esposa Maria do Espírito Santo, foram assassinados em maio de 2011. “Está acontecendo uma verdadeira chacina contra quem vive na floresta e luta para deixar ela em pé. Em 2011, além de meu irmão, muitos outros foram assassinados. Isso sem contar as ameças de morte. Quando a mídia fica muito em cima, eles dão uma pausa. Mas a trégua dura pouco. O desmatamento mesmo, nunca pára”, aponta.
A violência no campo segue fazendo vítimas na Amazônia. Somente neste ano já foram registrados 23 assassinatos em conflitos no campo, segundo a CPT. O mais recente capítulo dessa história de falta de governança e impunidade ocorreu no último dia 16 de agosto quando Josias Paulino de Castro, de 54 anos, e sua esposa Ereni da Silva Castro, 35, foram assassinados no Mato Grosso, em Guariba, zona rural de Colniza. Josias era presidente da Associação dos Produtores Rurais Nova União (Aspronu) do Assentamento Projeto Filinto Müller. Cerca de uma semana antes, ele havia denunciado a extração ilegal de madeira na região, corrupção e emissão irregular de títulos de terra.
Já passou da hora do governo adotar medidas enérgicas que invertam essa lógica de impunidade a quem viola direitos humanos e a floresta. E o primeiro passo para isso é se comprometer publicamente com o Desmatamento Zero. Em ano de eleição, cabe estender a pergunta aos candidatos à presidência do Brasil: Que compromissos vocês pretendem assumir para resolver a falta de governança na Amazônia?
* Publicado originalmente no site Greenpeace.
(Greenpeace)