Debate sobre o Projeto da Transposição do Rio São Francisco e comentários de João Suassuna
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Debate sobre o Projeto da Transposição do Rio São Francisco e comentários de João Suassuna



transposição do rio São Francisco
Programa Roda Viva – 24/10/2005
Assista ao programa na íntegra, clicando no endereço abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=IYVfkLkKzBU&feature=youtu.be&t=3705 

Sobre o assunto:
Transposição do Rio São Francisco: um crime de lesa-pátria, por João Suassuna
http://remabrasil.org:8080/virtual/r/remaatlantico.org/sul/Members/suassuna/campanhas/transposicao-do-rio-sao-francisco-um-crime-de-lesa-patria-por-joao-suassuna

COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Pela lamentável situação em que se encontra o Rio São Francisco atualmente, dá para perceber o quanto o ex-ministro Ciro Gomes errou em suas previsões, ao tentar defender o projeto da Transposição do São Francisco. Errou, e errou feio!
Em primeiro lugar, sua Excelência afirmou que a prioridade do projeto, era para o abastecimento humano. Ora, um projeto dimensionado com essas características, com canais que possibilitam a passagem de uma vazão de até 127 m³/s, tem todas as prerrogativas para o atendimento das demandas do grande capital. Será, sem a menor sombra de dúvida, para o atendimento da grande irrigação, da criação do camarão e dos usos industriais. O abastecimento das pessoas, que habitam o Setentrional nordestino, ficará em um segundo plano, até porque não está claro, no projeto, como esse abastecimento será realizado. Como termo de comparação, o Sistema Cantareira, em São Paulo, que abastece cerca de 11 milhões de pessoas, oferta cerca de 50 m³/s, apenas. Portanto, não há como justificar uma retirada, no Velho Chico, de mais do que o dobro do volume ofertado pelo Sistema Cantareira, para o abastecimento de 12 milhões de pessoas sedentas, da região semiárida.
Outro ponto que merece sere destacado, é a afirmativa do ex-ministro de que não há água no Nordeste. Essa afirmativa é estranha, principalmente partindo de uma pessoa nativa da região, que já ocupou o cargo de Governador do Ceará, Estado que possui mais da metade das águas represadas em superfície do Semiárido nordestino. São 18 bilhões de m³/s, distribuídos em cerca de 8 mil açudes, um deles, o Castanhão, com capacidade de 6,7 bilhões de m³/s, considerado o maior do Nordeste.
Procurei em minha fala, esclarecer a questão da existência de água na região, em volumes suficientes ao atendimento das demandas dos nordestinos. Essas questões do abastecimento de pessoas, com as águas interiores do Nordeste, foram palco de exaustiva discussão, na reunião que a SBPC havia promovido, no Recife, em 2004, com a participação de cerca de 40 hidrólogos, a qual resultou numa proposta, para a construção de uma infraestrutura hídrica no Setentrional, com suas águas interiores, que fosse capaz, em primeira instância, de satisfazer as demandas da população necessitada da região, após o que se faria uma avaliação de necessidades, para se viabilizar ou não, a busca das águas do rio São Francisco. Portanto, na avaliação dos técnicos da SBPC, o uso das águas interiores do Nordeste foi considerado como de abastecimento principal. A busca das águas do rio São Francisco, em processo de transposição, como secundária. Além do mais, a proposta de se usar as águas interiores da região, seria infinitamente mais barata do que aquela trazida do rio São Francisco, a uma distância aproximada de cerca de 500 km do local do consumo.
Outro ponto relevante no debate com Ciro Gomes, foi a fala de Apolo Lisboa, Coordenador do Projeto Manuelzão e responsável pela revitalização do rio das Velhas, importante afluente do Rio São Francisco, em Minas Gerais. Apolo discorreu sobre as deficiências e os entraves políticos na condução do projeto da transposição, mostrando claramente que as vontades políticas não podem estar, em hipótese alguma, acima das possibilidades técnicas para se realizar um projeto dessa envergadura, sob pena se chegar à situação vivenciada atualmente na bacia do São Francisco: um rio que não tem volumes, sequer, para gerar a energia necessária ao desenvolvimento da região Nordeste.

in EcoDebate, 19/08/2015





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