Dia da Biodiversidade em Porto Alegre/RS. Foto Cíntia Barenho/CEA
O município de Ibarama, localizado na região central do Rio Grande do Sul, sediará nos dias 8 e 9 de agosto, o 2º Seminário da Agrobiodiversidade Crioula. Desde 1998, Ibarama destaca-se pela produção de milho crioulo no Estado. Em 2008, agricultores da região, comprometidos com essa cultura, criaram a Associação dos Guardiões das Sementes Crioulas de Ibarama, com o objetivo de manter vivo os saberes tradicionais locais que passam de geração a geração, buscar conhecimentos sobre práticas agroecológicas e desenvolver o cultivo de milho crioulo, diminuindo a dependência da agricultura em relação aos atuais pacotes tecnológicos das grandes empresas transnacionais do setor.
Ao todo, quatro eventos ocorrerão nestes dois dias (no Ginásio Esportivo João Lazzari) : o 12º Dia da Troca de Sementes Crioulas de Ibarama, o 2º Seminário da Agrobiodiversidade Crioula, a 2ª Feira da Economia Popular Solidária do território centro Serra e o 2º Semionário Regionalo de Guardiões Mirins de Sementes Crioulas. Todos esses eventos compartilham os seguintes objetivos: troca de experiências e sementes, exposição e comercialização de produtos oriundos de empreendimentos solidários e a discussão da importância do reconhecimento da identificação geográfica para o milho crioulo de Ibarama e seus derivados, assim como para o desenvolvimento regional sustentável.
Estimulados por técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e trabalhando com apoio de professores e técnicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) , um grupo de agricultores familiares está envolvido com procedimentos de resgate, conservação e multiplicação de cultivares crioulas, em especial do milho. Desde 2009, uma equipe da UFSM vem trabalhando junto com os agricultores para consolidar essa experiência e disseminá-la para outros municípios.
Os eventos são promovidos em conjunto pela Associação dos Guardiões de Sementes Crioulas de Ibarama, Emater, UFSM, Prefeitura de Ibarama, Colegiado do Território Centro Serra e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado.
Patrimônio genético em risco
A professora Lia Rejane Reinger, do Departamento de Fitotecnia da UFSM, destaca que as sementes crioulas constituem um imenso repositório genético não somente para as comunidades que as conservam, mas para toda a humanidade. Sua importância, enfatiza, “vai além dos cenários locais e regionais, uma vez que seus genes podem ser importantes para garantir a sobrevivência dos cultivos agrícolas, esgotados, muitas vezes, em seu germoplasma pelos programas convencionais de melhoramento genético”.
A conservação da agrobiodiversidade crioula, adverte Lia Reinger, sofre hoje uma série de ameaças: “inexistência de uma infraestrutura eficiente de conservação, que a proteja de eventuais perdas por intempéries de natureza climática ou ações antropogênicas; carência de estudos técnico-científicos que possibilitem o seu resgate, conservação e uso sustentável e, também, pelo risco de que a reputação do germoplasma crioulo conservado em Ibarama e seus derivados, em especial a farinha, sejam indevidamente apropriados por outrem, dada a inexistência de registro de uma marca coletiva ou do reconhecimento de identificação geográfica, estratégias que podem proteger e, simultaneamente valorizar esses produtos locais”.
Biodiversidade em queda no planeta
Segundo o Centro de Monitoramento para a Conservação Mundial, órgão ligado às Nações Unidas, a perda de biodiversidade no planeta já assumiu proporções alarmantes. Os governos não conseguiram cumprir sua promessa de chegar a 2010 com uma redução significativa da perda de diversidade biológica. Os países signatários do Convênio sobre a Diversidade Biológica acordaram em 2002 que deveriam obter uma significativa redução no ritmo da perda de biodiversidade para 2010, Ano Internacional da Diversidade Biológica.
A realidade, porém, é que a biodiversidade declinou nas últimas quatro décadas. Essa redução atinge diferentes grupos animais, como mamíferos, aves e insetos; bosques e manguezais; e arrecifes de coral. A Mata Atlântica brasileira que, no passado, foi o segundo bosque mais extenso da América do Sul, tem hoje conservada cerca de 10% de sua área, numa área fragmentada em parcelas diminutas.
O Pampa gaúcho também sofre com essa destruição. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, somente entre 2008-2009, o Bioma Pampa perdeu 331 quilômetros quadrados com a supressão de vegetação nativa, o que equivale a uma taxa de 0,18%, um pequeno decréscimo em relação à taxa do período 2002-2008, que foi de 1,2%.
De um total de 177.767 km², o Pampa teve quase 54% de sua área original suprimida ao longo de sua ocupação histórica. Entre 2002 e 2008, foram perdidos 2.183 km², que equivale a 1,2% do bioma , ou 0,2% de taxa média anual de desmatamento. Alegrete, na fronteira do estado do Rio Grande do Sul, foi o município que mais desmatou neste período em números absolutos, sendo 51,93 km² equivalentes a 0,67% da área do município. A lavoura do arroz, a pecuária e a expansão do reflorestamento de vegetação nativa por plantações das espécies eucalipto e pinus são as atividades que pressionam o desmatamento no Pampa, afirma o MMA.
No caso das sementes, o avanço de culturas transgênicas coloca em risco, ao mesmo tempo, patrimônio genético, saberes e sabores tradicionais e a possibilidade de um tipo de agricultura não mergulhado em agrotóxicos e práticas que transformam os campos em grandes monoculturas, sem vida, sem cultura e sem história.
Fonte: Sul21
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