capaongnoruega 212x300 Conflitos socioambientais aumentam na Amazônia
Pesquisadores constatam multiplicação de violações de direitos humanos e de casos de degradação ambiental nos países amazônicos, em especial no Brasil.
Um novo relatório destaca que episódios de violência e destruição na região amazônica estão subindo, com destaque para o Brasil, onde os conflitos pela terra estão em seu patamar mais grave nos últimos dez anos.
A publicação foi elaborada por uma ONG norueguesa chamada Regnskogfondet (Rainforest Foundation Noruega), que trabalha há 25 anos na Amazônia. Um dos objetivos é alertar o governo norueguês – grande doador de recursos para projetos e programas de conservação, assim como investidor de empresas que atuam na região – sobre a situação preocupante em que se encontra a floresta e os povos nativos.
“Defensores dos direitos humanos, ambientalistas e indígenas estão sendo atacados e sofrendo forte pressão; o direito à terra e à consulta prévia são freqüentemente violados”, concluiu o relatório.
As causas deste cenário deplorável de conflitos entre ativistas, corporações e agências governamentais são atribuídas à crescente exploração intensiva de recursos como madeira, água, petróleo, gás, ouro e outros minerais, além do desenvolvimento de obras de infraestrutura.
indiosongnoruega Conflitos socioambientais aumentam na AmazôniaO relatório cita um estudo de 2012, elaborado pela Global Witness, que mostrou que dos 711 ativistas ambientais mortos devido a disputas pela terra no período 2002-2011,365 assassinatos foram no Brasil. Porém, dados do CIMI indicam que, considerando apenas indígenas, 563 foram mortos em nosso país entre 2003 e 2012.
A publicação da ONG norueguesa enfatiza ainda que os conflitos estão acontecendo mesmo com muitos dos países amazônicos, entre eles o Brasil, tendo assinado a Declaração das Nações Unidas sobre o Direito dos Povos Indígenas – instituindo que estes grupos têm o direito de auto-determinação – e também a Convenção da Amazônia sobre Direitos Humanos.
“A distância entre teoria e prática é grande”, afirma o relatório.
Brasil
A ausência de consulta aos indígenas no desenvolvimento de usinas hidroelétricas é citada como um dos problemas no país.
A publicação nota a expansão do setor na Amazônia, com dezenas de usinas em construção e lembra que, em 2010, a presidente Dilma fechou um acordo com o Peru para a construção de 15 usinas no país vizinho, todas financiadas pelo BNDES. Assim como também a construção da BR-317, ou Rodovia Transoceânica, que liga ambos os países.
“Em comparação com o Banco Mundial, as diretrizes do BNDES sobre responsabilidade social e ambiental e direitos humanos são fracas”, nota o relatório, que também enfatiza o caso da usina de Belo Monte.
Como dois terços da Amazônia e mais de um terço de todos os remanescentes de florestas tropicais do mundo estão no Brasil, é de se esperar que conflitos existam. Porém, a tendência dos últimos anos tem sido assustadora.
Assim como muitos ambientalistas vêm ressaltando recentemente, o relatório enfatiza que apesar da redução do desmatamento em 80% entre 2004 e 2012, este índice está agora sendo revertido, assim como os ganhos em termos de legislação e políticas.
“O Brasil tem, ao longo dos últimos anos, apresentado ataques sistemáticos aos direitos indígenas e à legislação sobre áreas protegidas, vindos de vários grupos de interesse e em diversos níveis”, pondera a publicação.
O cenário para os indígenas nos últimos anos não tem se mostrado nada animador. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), no Brasil, atualmente há 83 propostas legislativas no Congresso que ameaçam os territórios indígenas, sendo que 75% deles enfrentam “ameaças concretas”.
“Alguns pesquisadores estão sugerindo que a nova Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) seja, na prática, uma tentativa de operacionalizar o direito dos povos indígenas à consulta”, nota o relatório.
Petróleo no Peru
Um caso no Peru é muito ilustrativo da situação crítica que os povos da Amazônia vêm enfrentando.
Por 30 anos, uma empresa norte-americana chamada Occidental Petroleum liberou, sob protestos, efluentes tóxicos nos cursos d’água de uma região que abrigava seis grupos indígenas. Taxas anormais de câncer e doenças de pele tomaram conta das tribos, porém o governo tem planos de expandir a produção de petróleo na região em 2015.
No Peru, desde 2008, o índice de conflitos sociais triplicou, sendo dois terços identificados como socioambientais, aponta a publicação.
Recomendações
O relatório termina com uma série de recomendações para o governo da Noruega, lembrando que além do papel de apoiador de organizações indígenas, ambientalistas e de direitos humanos e da proteção da floresta, o país também é um grande investidor em empresas que são responsáveis pelos casos relatados.
Entre as sugestões:
  • O fortalecimento da perspectiva de direitos humanos nas políticas de desenvolvimento da Noruega;
  • Dialogar com os países para darem apoio a ativistas e ao trabalho com direitos humanos na Amazônia;
  • Aumentar o apoio aos povos indígenas e outros grupos vulneráveis;
  • Garantir a alienação das holdings do Fundo de Pensão do Governo responsáveis por abusos sociais e ambientais na Amazônia;
  • Buscar estabelecer uma linha de financiamento separada para as organizações indígenas no Fundo Amazônia;
  • Garantir que todas a iniciativas de REDD+ que receberem apoio financeiro da Noruega respeitem os direitos dos povos indígenas.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)