Cientistas criticam paralisia de governos e recomendam economia drástica de água
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Cientistas criticam paralisia de governos e recomendam economia drástica de água



falta de água
A  Academia  Brasileira  de  Ciências  recomenda  redução  de  15%  do  consumo  de  água  e  de energia elétrica para evitar que país passe  por  uma  situação  drástica. Foto: Arquivo/Agência Brasil
 
A Academia Brasileira de Ciências reuniu ontem (12) seus principais especialistas em mudanças climáticas com objetivo de cobrar ações imediatas para a crise hídrica. A academia elaborou aCarta São Paulo, que será entregue também aos governos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, com uma lista de 12 aspectos que precisam ser enfrentados na crise. Além de sugerir planos de contingência e políticas de saneamento, eles destacam a necessidade de “capacitação de gestores” e colocam-se à disposição para ajudar.
Diante do que chamou de “política de avestruz”  dos governos, os membros da academia disseram que a situação é agonizante e recomendam redução de 15% do consumo de água e de energia elétrica para tentar evitar uma situação caótica. Não há previsão de que as chuvas consigam encher os reservatórios até o próximo verão.
“Alguém [prefeito, presidenta ou governador] têm que dizer: nós estamos em crise de água e depois dar ordens: ‘minha senhora, por favor, poupe água’”, afirmou o chefe do Laboratório de Hidrologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Canedo, que é também consultor do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). “Estou ansioso por ordens. Todos dias eu acordo e espero essas orientações para ajudar a coletividade.”
Segundo o professor, no estado do Rio de Janeiro, se medidas não forem tomadas no curto prazo, pode haver falta d’água. Ele explica que há mais retirada do que entrada de água no sistema. Em São Paulo, o governo estadual já trabalha com a possibilidade de racionamento.
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Sem medidas de curto prazo, pode faltar água, diz o professor Paulo Canedo. Foto: Arquivo Agência Brasil
 
Reunidos na sede da academia, no Rio de Janeiro, os especialistas cobraram também transparência e planejamento de ações para gerir a crise. Segundo José Galizia Tundisi, presidente da Associação de Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental, várias soluções podem ser tomadas para resolver o problema, desde que exista vontade política.
“Boa parte do desenvolvimento da ciência foi financiada pelos governos. Os governos pagam para produzir recursos humanos e depois usam muito pouco, não prestam atenção no que os cientistas dizem”, reclamou Tundisi, que é também presidente do Instituto Internacional de Ecologia. “São vários estudos, pesquisas, dados e teses com soluções sobre o quê fazer”.
De forma imediata, a recomendação é para a redução drástica dos gastos de água e luz. Paulo Canedo disse que calibrar o ar condicionado é um começo. “Eu puxo [a temperatura] para 24º  e minha esposa vai e diminui para 21º. Mas, ora, com essa temperatura, você tem que pegar um cobertor. E não é razoável dormir com cobertura em pleno verão”, diz. “Quanto menor a temperatura, maior consumo de luz. Ou seja, dá para fazer economia sem sofrimento”.
O professor  também sugeriu que bandeiras tarifárias sejam incorporadas à conta de água, para alertar o consumidor sobre o nível de consumo. Outra solução, acrescentou, é aumento da tarifa. “Se o governo não quer que a população mais pobre seja onerada, dê um bônus para o consumidor de baixa renda”, disse. “Isso é absolutamente justo. É o time da ajuda coletiva”.
Outra medida que precisa ser meta das concessionárias de água é a redução das perdas no próprio sistema de abastecimento. Os cientistas consideram inadmissíveis perdas de 30%, como acontece no Rio de Janeiro, e até de 60%, em Belém, no Pará. “O ideal é [uma taxa] de 10%. Até 20%, como nos países desenvolvidos. Acima disso, o governo do Rio tem que ficar de castigo olhando para a parede”, brincou o professor da UFRJ.
Essas seriam as primeiras medidas a serem adotadas antes de um eventual racionamento, explicam. A professora Sandra Azevedo,  diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, disse que o fornecimento intermitente é o pior dos cenários. Segundo ela, gera desabastecimento das regiões mais afastadas e contaminação da água, que se refletirão em doenças.
“O abastecimento é feito por linhas de transmissão. Então, quem for abastecido primeiro vai querer economizar [vai guardar água em baldes, bacias, encher a caixa d’água] e quem está no final da linha [geralmente os mais pobres] não receberá água nem dia sim, nem dia não”, afirmou.
Por Isabela Vieira, da Agência Brasil.
Publicado no Portal EcoDebate, 13/02/2015





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