As grandes cidades chinesas sofrem cotidianamente com a poluição do ar, sendo que novos recordes negativos estão sendo batidos todos os meses. A capital, Pequim, chegou a ser classificada como “imprópria para viver” durante alguns dias de janeiro.
Trata-se de um problema tão grave que, nesta quarta-feira (5), o primeiro-ministro Li Keqiang, na abertura dos trabalhos anuais do Parlamento chinês, declarou guerra à poluição.
“Nós estamos declarando guerra à poluição, assim como no passado declaramos guerra à pobreza”, disse Li, acrescentando que isso não significa que o país deixará de ter crescimento econômico.
“Diminuir a poluição é uma parte fundamental dos esforços para melhorarmos nossa economia. Ao alterarmos o nosso foco das indústrias pesadas e do abuso dos recursos naturais, ficaremos mais fortes. A poluição é o sinal vermelho que a natureza está nos mostrando devido ao nosso desenvolvimento cego e ineficiente”, completou.
Essa é a grande novidade do atual plano chinês para medidas feitas no passado.
Tradicionalmente, o combate à poluição passa por ações de restrição, que costumam ser criticadas por terem possíveis impactos negativos na geração de empregos e no crescimento do PIB. O que o governo chinês quer agora é estimular a modernização do parque industrial assim como de setores de tecnologias limpas, como as energias renováveis.
Nesse sentido, entre as propostas de Li destaca-se a criação de um fundo de dez bilhões de Yuan (US$ 1,65 bilhão) para lidar com a poluição do ar, oferecendo recompensas às companhias que tornarem suas operações mais limpas.
Dessa forma, as empresas que forem consideradas líderes na diminuição de suas emissões de poluentes em seus setores receberiam ‘incentivos’.
O objetivo é acabar com práticas obsoletas que ainda são adotadas por muitas indústrias chinesas.
“Cerca de 50 mil caldeiras de carvão deixarão de ser utilizadas neste ano. Centrais térmicas serão modernizadas e seis milhões de veículos antigos deixarão as ruas”, disse Li.
O primeiro-ministro espera que ainda neste ano 27 milhões de toneladas de aço, o equivalente à produção da Itália, deixem de ser produzidas através de métodos ultrapassados, que resultam em poluição e em desperdício de energia.
O setor de energia, aliás, é estratégico para que os planos chineses funcionem.
Apenas no ano passado, o país instalou 12 GW em nova capacidade fotovoltaica, valor semelhante à geração de Itaipu, a maior hidroelétrica do mundo. Em energia eólica, foram mais 16 GW.
A meta é alcançar 35 GW em energia solar até 2015 e 200 GW em eólica até 2020.
Porém, a China está longe de se distanciar do carvão, que representa 70% de sua matriz energética, e deve continuar sendo o principal consumidor mundial pelas próximas décadas.
De acordo com Instituto de Pesquisa para Projeto e Planejamento da Indústria Carvoeira da China, a demanda de carvão deve alcançar seu pico em 2020, com 4,7 bilhões de toneladas.
A Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos afirma que os chineses consomem 47% de toda a quantidade de carvão utilizada no planeta.
Conseguir reduzir essa dependência será crucial para que a China possa cortar a poluição e ainda apresentar crescimento econômico. É um objetivo digno de uma “guerra”, mas fica a dúvida se é algo realmente possível.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)