china usa China e Estados Unidos mais próximos na luta contra a mudança climática
Washington e Pequim pesquisarão sobre tecnologia para a captura de carbono nas usinas a carvão. Foto: Bigstock

Washington, Estados Unidos, 17/7/2013 – China e Estados Unidos acordaram um conjunto de iniciativas que podem ajudar a reduzir as emissões de gases-estufa de suas respectivas economias, as maiores do mundo e as mais contaminantes. Organizações ambientalistas aplaudiram a notícia do acordo alcançado entre os dias 10 e 11 deste mês. Além disso, parece que as relações entre as duas potências melhoraram um pouco, o que poderia servir de base para uma nova cooperação importante nas negociações internacionais sobre mudança climática.
“Foi uma das melhores sessões sobre mudança climática de que já participei”, disse, no dia 10, um porta-voz do governo de Barack Obama. “Não havia apenas autoridades dos dois países, mas também aconteceram intercâmbios francos, interessantes e, o mais importante, houve propostas para promover a cooperação”, acrescentou. Os dois países acordaram se concentrar em grandes áreas como reduzir as emissões derivadas do transporte pesado, fortalecer a eficiência energética e melhorar a coleta de dados relativos aos gases contaminantes.
Washington e Pequim também vão aumentar a pesquisa sobre tecnologias de captura de carbono nas usinas de geração elétrica a carvão e colaborar na construção de novas redes elétricas “inteligentes”, para serem mais eficientes e poderem incorporar mais facilmente fontes renováveis e geração distribuída (a que procede de muitas alternativas energéticas pequenas). As conversações bilaterais também avançaram sobre as modalidades de outro acordo histórico alcançado entre Obama e o presidente da China, Xi Jinping, em junho, para reduzir a quantidade de hidrofluorocarbonos (HFC), utilizados em refrigerantes e em ares-condicionados que os dois países usam e produzem.
“Claramente aponta para alguns dos maiores setores em termos de liberação de gases-estufa (construção, transporte e energia), que juntos concentram a maioria das emissões dos dois países”, afirmou Alden Meyer, diretor do escritório em Washington da União de Cientistas Preocupados, em entrevista à IPS. “Contudo, no momento é difícil estimar o impacto real sobre as emissões sem conhecer mais detalhes”, ressaltou. “A questão fundamental é se essas iniciativas ajudarão apenas os dois países a alcançarem os objetivos de redução de emissões já estabelecidos para até 2020. Seria bom, naturalmente, mas isso não estaria dando um impulso adicional ao esforço global”, advertiu Meyer.
A atual política dos Estados Unidos procura reduzir, até 2020, 17% nas emissões contaminantes em relação aos níveis registrados em 2005. A China, por seu lado, coloca como seu objetivo central reduzir a “intensidade de carbono” de sua economia entre 40% e 45%, também até o final desta década. Porém, Meyer disse que “todo o mundo concorda” que os dois países têm que fazer muito mais para se evitar que a temperatura global suba mais do que dois graus até o final do século. Este é o atual objetivo coletivo que, segundo especialistas, constitui um limite perigoso.
Estas conversações bilaterais também são consideradas um grande êxito do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, conhecido defensor do clima. Kerry foi fundamental para criar um novo grupo de trabalho sobre mudança climática entre Estados Unidos e China, e afirma-se que promove ativamente este assunto em quase todos os países que visita.
“Não é mais um assunto marginal. Kerry converteu a mudança climática em um ponto forte das conversações políticas, colocando-o entre os mais importantes da agenda geopolítica, junto com segurança e questões econômicas”, pontuou Meyer, acrescentando que “também ajudou o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Agência Internacional de Energia a alertarem que a mudança climática é uma grande ameaça para o desenvolvimento, bem como para a economia mundial”.
Remendando a desconexão
A mudança climática não foi o único assunto tratado durante a cúpula entre China e Estados Unidos, conhecida como Diálogo Estratégico e Econômico, mas foi um dos mais destacados. No encontro foram mostrados os resultados iniciais do grupo de trabalho criado em abril para o tema. “Queremos demonstrar ao mundo que as duas maiores economias podem cooperar para ajudar a atender os desafios ambientais”, afirmou na semana passada um porta-voz de Washington.
O grupo sobre mudança climática realiza um trabalho especialmente intensivo, que, espera-se, continue. A previsão é que o grupo chegue a um acordo em outubro sobre a implantação das cinco primeiras iniciativas. O governo de Obama deu a entender que o tema da mudança climática permanecerá na agenda anual do Diálogo Estratégico e Econômico, que incluirá a revisão anual das iniciativas empreendidas, bem como o lançamento de novas. Os resultados do intercâmbio da semana passada poderão servir como plataforma para impactar as negociações internacionais prévias à cúpula de Paris de 2015, quando os governantes mundiais se reunirão para criar um novo acordo global contra o aquecimento global.
“Há um renovado impulso no intercâmbio entre China e Estados Unidos sobre mudança climática. Os esforços bilaterais são fundamentais, e esta colaboração é uma injeção adicional para abordar o tema em escala mundial”, diz um comunicado de Jennifer Morgan, diretora do programa de clima e energia do World Resources Institute, um grupo de estudo com sede em Washington. “Estas ações ajudam a criar confiança e melhorar a cooperação entre dois grandes países. Os benefícios são claros. Agora precisamos que sejam tomadas medidas para reduzir as emissões contaminantes no mundo e aproveitar as oportunidades econômicas de um futuro com menos dióxido de carbono”, destacou.
Por sua vez, Meyer destacou que a desconexão entre estes dois países em matéria de mudança climática constituiu um enorme obstáculo no avanço das negociações internacionais dos últimos anos. “Na medida em que agora cooperarem, esperamos que se chegue a uma associação mais útil nas negociações para um acordo posterior a 2020”, acrescentou. “Em Paris, em 2015, necessitaremos um amplo compromisso e cooperação entre os governantes das grandes potências, que não tivemos antes da cúpula de Copenhague (2009). Contar com esta nova relação dois anos antes da cúpula de Paris é algo bom. Será essencial esse nível de compromisso entre os governantes”, concluiu. Envolverde/IPS
(IPS)