Instituições públicas brasileiras lideram pesquisas para combater as doenças negligenciadas, como a malária. Foto: Flickr/US Army
Enfermidades como a malária, esquistossomose e doença de chagas são conhecidas das populações em áreas pobres do mundo, como América Latina, África e a porção tropical da Ásia. No entanto, essas moléstias apelidadas de “doenças negligenciadas” ainda são responsáveis pela morte de mais de 1 milhão de pessoas por ano.
Este grupo de doenças negligenciadas – composto pela esquistossomose, leishmaniose, malária e doença de chagas e do sono – ganhou o apelido por ser ignorado pelos laboratórios farmacêuticos. Comuns em áreas pobres do mundo, as populações atingidas por essas doenças não possuem recursos para pagar por um tratamento que exigiria anos de pesquisa e um alto investimento dos laboratórios. Por essa razão, entre 1975 e 2004 apenas 1,3% dos medicamentos disponibilizados no mundo eram para as doenças negligenciadas, apesar delas representarem 12% das doenças.
No entanto, o esforço de instituições filantrópicas e de instituições públicas, principalmente do Brasil, está mudando esse cenário. Em junho, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou a produção de uma vacina contra a esquistossomose, doença que atinge 200 milhões de pessoas no Brasil, África e na América Central. A vacina estará disponível em até cinco anos e é fruto da liderança brasileira no combate a este um grupo de doenças. “O Brasil entendeu que se não investisse no tratamento de doenças que atingem essa população negligenciada, o País não teria como se desenvolver com sustentabilidade”, afirma Gustavo Romero, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade de Brasília (UnB).
A liderança brasileira é necessária devido à incidência das doenças negligenciadas no País. Mais de 20% dos casos de doenças de chagas de todo o mundo e cerca de 90% dos casos de leishmanioses da América Latina ocorrem em território brasileiro. Isso explica porque, segundo o professor Gustavo Romero, em dez anos o País se tornou líder em pesquisas sobre doenças negligenciadas.
Atualmente, o investimento brasileiro gira em torno de 75 milhões de reais ao ano, a maior parte proveniente do Ministério da Saúde e do Ministério de Ciência e Tecnologia, através das agências de fomento à pesquisa CNPq e Finep.
Para 2012, 20 milhões de reais já estão reservados para os editais de pesquisa. “O Brasil já é líder em pesquisas nesta área, mas ainda é preciso um volume maior de investimentos para tirar o rótulo de doenças negligenciadas”, diz o professor Romero, que também coordena a Rede Brasileira de Aleternativas Terapêuticas para as Leishmanioses, doença que mata 300 pessoas por ano no País.
Apesar dos investimentos públicos e do anúncio da vacina contra a esquistossomose, as expectativas de cura para as doenças negligenciadas, em geral, são de longo prazo. “Trabalhamos com a expectativa de termos algo concreto em 20 anos. É um período longo, mas pelo menos temos essa expectativa hoje”, diz. “Há 15 anos, ninguém cogitava um controle da doença”, completa Romero.
Atualmente, as instituições brasileiras trabalham em cooperação científica com a Índia e outros países africanos, asiáticos e da América Latina para obter avanços nos tratamentos dessas doenças. “Temos que trocar informações sobre pesquisas e testes de medicamentos para avançar mais rápido neste tema. O setor público colocou essas doenças na pauta, agora, temos que trabalhar para mantê-las em discussão e aumentar os investimentos na área”, conclui Romero.
* Publicado originalmente no site Carta Capital. (Carta Capital)
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