Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) revelou que a produção de biocombustíveis é a principal fonte da crescente demanda na agricultura, e que isso está elevando os preços das commodities alimentares.
Segundo o ‘Estado da Alimentação e Agricultura 2012′, publicado na última semana, na União Europeia a produção de biocombustíveis foi responsável por 80% da geração de óleo vegetal, enquanto nos Estados Unidos 37% da produção de grãos foi destinada à geração de etanol.
De acordo com o documento, isso, em associação com os recentes extremos climáticos – como secas, enchentes e tempestades – que assolaram e devastaram a produção agrícola de diversos países, em especial na Europa e nos EUA, tem aumentado cada vez mais o preço das commodities alimentares, além de estimularem a degradação ambiental.
“As politicas atuais como a produção de biocombustível, a autossuficiência alimentar e o comércio internacional podem ter consequências ambientais desconhecidas e adversas, que devem ser avaliadas cuidadosamente”, afirma o texto.
Além disso, a FAO acredita que a volatilidade no preço das commodities alimentares e suas consequências levam um maior crescimento populacional, maior renda per capita, migração urbana e mudanças na dieta alimentar em países em desenvolvimento, entre outras questões de difícil resolução.
Por isso, o relatório pede que governos e empresas busquem um equilíbrio na produção agrícola entre a geração de biocombustível e alimentos, procurando evitar também os grandes danos ambientais estimulados pela crescente demanda na produção agrícola para a geração de biocombustíveis.
“Isso exige que o investimento público seja direcionado para o aumento da produção de formas que sejam ambientalmente sustentáveis e socialmente benéficas”, sustenta o documento.
Pedidos de suspensão
Com os recentes eventos climáticos extremos que prejudicaram a produção agrícola em vários países do mundo, surgiram pedidos para que as nações repensassem suas metas de produção de biocombustível, bem como refletissem sobre a geração de biocombustíveis de primeira geração, ou seja, aqueles que são produzidos por commodities alimentares.
O uso de biocombustíveis de segunda geração , como o proveniente do óleo de palma, tem a vantagem de não necessitar de commodities alimentares, porém ainda apresenta como desvantagens a questão da degradação ambiental, o uso da terra, o estresse hídrico etc.
Embora em muitos países essas sugestões tenham sido ignoradas, dados apresentados por pesquisas recentes confirmam que, caso a produção agrícola se focasse mais na geração de alimentos e investisse na alta produtividade, técnicas avançadas de irrigação e criação de empregos, muitas das 870 milhões de pessoas que passam fome no mundo poderiam ser alimentadas.
“Investimentos em agricultura são uma questão chave para atingir segurança alimentar e desenvolvimento. Estamos vendo hoje altos preços de alimentos, preços de alimentos muito voláteis e isso tem afetado os países mais pobres por todo o mundo”, comentou José Graziano da Silva, da FAO.
“Nossa publicação neste ano mostra muito claramente que países onde agricultores e governos investiram em agricultura estão vendo um progresso mais rápido para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio, especialmente aquelas relacionadas à pobreza e à fome”, acrescentou da Silva.
Mas apesar da necessidade de mudança, em muitos países a produção alimentar ainda está estagnada. O crescimento médio anual na produção agrícola diminuiu em 2001-2010 de 2,6% a 2,7% em relação aos anos 1960, diz o relatório.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.