As florestas ficaram mais frágeis, por Fernando Reinach
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As florestas ficaram mais frágeis, por Fernando Reinach


[O Estado de S.Paulo] Charles Robertson passou 20 anos, entre 1870 e 1890, estudando os insetos que polinizavam as flores de Carlinville, uma pequena cidade nos Estados Unidos.




Para cada uma das plantas que estudou, Robertson identificou todas as espécies que visitavam suas flores. Descobriu que 109 espécies de insetos polinizavam 26 espécies de flores. Como cada espécie de inseto visita mais de uma espécie de planta e cada flor é visitada por mais de um inseto, Robertson identificou um total de 532 pares de flores/insetos e produziu o mais antigo e completo mapa de interações entre as plantas e seus polinizadores.



Cento e vinte anos se passaram e Carlinville perdeu parte de sua mata para a agricultura. Em 2009, um grupo de cientistas voltou à cidade e repetiu o estudo de Robertson nas matas remanescentes.



A comparação dos resultados de 1890 com os de 2009 é a única medida direta que dispomos sobre o impacto da agricultura sobre a rede de interações que une plantas e polinizadores. Se você não gosta de más noticias, é bom parar por aqui.



Mais de 90% das plantas dependem de insetos para reproduzir. Os insetos dependem do néctar e as plantas dependem do transporte de pólen para produzir frutas e sementes. Nas grandes plantações, essa rede é semelhante, mas muito mais simples. Os agricultores dependem de colônias de abelhas para garantir a produção de frutas e os produtores de mel precisam alimentar suas abelhas com o néctar. A produção de frutas na Califórnia depende de 1,5 milhão de colmeias que são transportadas todos os anos de diversos Estados dos EUA para a região. As abelhas trabalham algumas semanas e voltam para casa. Esse aluguel de abelhas complementa a renda dos produtores de mel. No resto do mundo, não é diferente.



Nos últimos anos, com o aparecimento de novas doenças e o uso inadequado de inseticidas, aumentou o número de abelhas que morrem todos os anos, dificultando a recuperação das colmeias. O resultado é uma crescente falta de abelhas. Não sabemos como resolver o problema. Alguns inseticidas já foram banidos, mas tudo indica que essas medidas não serão suficientes. E sem abelhas podemos dar adeus às frutas.



No limite, a sobrevivência de parte de nossa agricultura pode depender de polinizadores presentes na natureza. Mas será que eles não foram dizimados no último século? A resposta está nas informações coletadas em Carlinville.



Comparando os dados de 1890 com os de 2010, os cientistas observaram que somente 125 das 532 interações ainda estão presentes (24%). Mas, como 121 novas interações foram observadas em 2009, o número atual de interações é 246. Conclusão: nos últimos 120 anos, desapareceram 46% das interações entre insetos e plantas nas matas de Carlinville.



Das 407 interações que desapareceram, 45% ocorreram por causa do desaparecimento de espécies de abelhas. Em 1890, havia 109 espécies. Hoje são 54. Por outro lado, o número de plantas envolvidas nessas interações permaneceu constante. Outras interações desapareceram em decorrência de mudanças de sincronia entre os insetos e plantas.



Plantas que floresciam na mesma época em que os insetos eclodiam agora florescem mais tarde em função das mudanças climáticas. O fato é que a rede de polinização dessas florestas diminuiu, e muito. Se em 1890 cada espécie de planta possuía diversos polinizadores, agora conta com um número menor de opções, o que torna o ecossistema mais frágil e menos resistente a mudanças.



Nossos antepassados contavam com a ajuda de dezenas ou centenas de insetos para garantir a reprodução em seus pomares. A agricultura moderna conta com pouquíssimas espécies de abelhas. Um processo semelhante está ocorrendo nas florestas. À medida que a biodiversidade é reduzida, as florestas perdem polinizadores. Com nossa agricultura e nossas florestas ficando mais frágeis, o risco de um colapso aumenta. Aos poucos, estamos cavando nossa própria cova.

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FONTE :
* Fernando Reinach é biólogo.
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo.
EcoDebate, 15/05/2013







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