A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) se comprometeu, na noite desta segunda-feira, 14 de setembro, a liderar um movimento pela unificação da pauta em defesa da Orla do Guaíba.
“É uma sugestão inovadora e relevante e convocaremos em breve outras organizações e movimentos que devam compor esse coletivo”, anunciou Melgarejo. A demanda partiu da mesa – composta pelo presidente da seção gaúcha do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Tiago Holzmann da Silva, o advogado Caio Lustosa e os integrantes do Cais Mauá de Todos Kátia Suman e João Volino Corrêa – e encontrou eco na plateia composta de estudantes e ambientalistas. “Precisamos ter uma agenda e uma mesa únicas! Só assim conseguiremos êxito em nossas batalhas”, conclamou o integrante do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema), Zé Fonseca. Já o ex-presidente da Agapan Francisco Milanez recordou que a pauta inclui outros movimentos como o bem sucedido Defesa do Morro Santa Tereza e um olhar para a orla na Zona Sul, onde a especulação imobiliária já constrói condomínios de alto padrão. “Hoje o foco é aqui na área central, mas é preciso estar de olho lá também”, alertou. Houve ainda menções a movimentos que enfocam a preservação de ambientes distantes das margens do Guaíba, mas que deveriam ser incorporados pelo grupo porque guardam estreita relação com a pauta de preservação – caso de associações comunitárias que querem manter a ambiência original dos bairros como Moinhos de Vento ou Petrópolis, onde há intensa militância pelo tombamento de casas antigas, ou Auxiliadora, que conquistou via pressão popular uma passagem exclusiva para pedestres em um local onde a prefeitura estudava abrir uma rua para automóveis. “São grupos que demandam seu direito à cidade, ao debate sobre que modelo queremos ter de urbanização”, assinalou João Volino. Integrante da Associação Comunitária do Centro Histórico e do coletivo Cidade Mais Humana, Paulo Guarnieri sugeriu a criação de um Fórum Permanente em Defesa da Orla. Já o participante do evento Valdir, foi mais longe e defendeu a realização de um congresso da cidade convocado pelos movimentos. “Já tivemos cinco edições desse congresso, todas promovidas pela prefeitura. É hora de articularmos um organizado pelas entidades”, asseverou, sob aplausos da plateia. A Agapan se comprometeu com ambas propostas. Audiência do Cais Mauá será primeira ação conjunta O primeiro desafio do grupo ocorrerá ainda sem a formalização da união, na próxima sexta-feira, 18 de setembro. Será a audiência pública para apresentação e debate do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – e seu respectivo relatório (Rima) – da revitalização do Cais Mauá. O evento ocorre a partir das 18h na sede Moinhos de Vento do Grêmio Náutico União. Em suas apresentações, os representantes do Cais Mauá de Todos salientaram a importância de uma presença massiva e organizada da cidadania. “O que estamos vivendo com o cais é um tensionamento que ocorre no mundo todo e para o qual há inúmeros exemplos positivos de vitória cidadã”, observou a comunicadora Katia Suman, mencionando os projetos do High Line, em Nova Iorque, e da criação de um parque com a despoluição de um arroio onde antes havia uma avenida em Seul, na Coreia do Sul. “Sonho que possamos ter algo semelhante em Porto Alegre”, concluiu. O coletivo Cidade Mais Humana aproveito para comunicar que formalizou uma ação judicial contra o Estado e os empreendedores que pretendem construir um shopping center, três torres comerciais e estacionamentos para quase 5 mil automóveis na área do antigo porto da Capital. IAB condena pouca informação sobre revitalizações O presidente do IAB-RS, Tiago Holzmann da Silva, revelou a preocupação da entidade e de seus filiados com a falta de informação sobre os projetos de revitalização para a Orla do Guaíba – inclusive a idealizada pelo arquiteto Jaime Lerner para a região entre a Usina do Gasômetro e o anfiteatro Pôr-do-sol. A prefeitura já contratou a empresa que fará a obra por R$ 60 milhões e terá início nos próximos dias. “Tudo o que conhecemos são algumas imagens que qualquer arquiteto faz em uma sentada. Mas projeto mesmo, ninguém viu”, condenou. A falta de informação também foi alvo da fala do advogado Caio Lustosa, que rememorou o processo ao longo de anos que transformou a área onde se pretende construir o Parque do Pontal (cujo nome anterior era Pontal do Estaleiro) de pública em privada. “Quando se fez o leilão, era um bem comum que vedava construções como o que se quer fazer hoje”, denunciou, lembrando que a lei foi modificada após a aquisição do terreno pelo empreendedor, permitindo, então, erguer edifícios comerciais. Texto: Naira Hofmeister/Agapan Leia mais: Jornal Já - Entidades questionam projetos de revitalização na orla do Guaíba |