- “Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos seu astro no oriente e viemos adorá-lo”.
O rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e com ele toda Jerusalém. E convocando todos os principais sacerdotes, os escribas (e os anciãos) do povo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram:
- “Em Belém da Judéia, porque assim está escrito pelo profeta: E tu Belém, terra de Judá, não és de modo algum o menor entre os lugares principais de Judá, porque de ti sairá um condutor que há de pastorear meu povo de Israel”.
Então Herodes chamou secretamente os magos e deles indagou com precisão o tempo em que o astro havia aparecido. E enviando-os a Belém, disse-lhes:
- “Ide informar-vos cuidadosamente acerca do menino, e quando o tiverdes encontrado, avisai-me para que eu também vá adorá-lo”.
Os magos, depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que o astro que viram no oriente os guiou até que, vindo, parou sobre o lugar onde estava o menino. Ao avistarem o astro, ficaram grandemente alegres. E entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe; e prostrando-se o adoraram; e abrindo seus cofres, fizeram-lhe ofertas de ouro, incenso e mirra. E recebendo (eles) a resposta no sono, que não voltassem a Herodes, seguiram por outro caminho para sua terra.
(Evangelho de Jesus-Cristo Segundo Mateus, 2:1-12)
Comentário:
Vimos no capítulo anterior a narrativa de Lucas sobre os primeiros dias de Jesus na carne e podemos perceber que há várias discordâncias e muitas omissões nos fatos narrados pelos dois evangelistas. Vejamos, sucintamente, algumas delas:
1. Lucas e Mateus concordam com o nascimento em Belém, porém, Lucas relata o retorno imediato à sua residência em Nazaré logo após a quarentena de Maria e a apresentação de Jesus ao templo. Mateus situa a ida a Nazaré bem mais tarde, após a fuga e o retorno do Egito.
2. Mateus ignora a homenagem dos pastores ao Menino Jesus; a circuncisão; a purificação de Maria; a apresentação do menino ao templo; e o encontro deste com os dois profetas: Simeão e Ana.
3. Lucas ignora ou omite em sua narrativa a homenagem dos reis magos ao menino Jesus; o massacre das crianças ordenado por Herodes; e a fuga para o Egito.
Se a fonte de Lucas foi Maria, como explicar a omissão de fatos tão importantes? E por que Mateus teria ignorado a homenagem dos pastores ao menino Jesus? Isto só pode ser explicado se considerarmos que cada evangelista tinha o seu próprio esquema que visava transmitir a mensagem de como alcançar a Comunhão Íntima com Deus (Divina Presença!) dentro de nossos próprios corações, e a ele se manteve fiel, sendo, para eles, a transmissão dessa mensagem muito mais importante do que a simples transliteração dos fatos históricos acontecidos na vida de Jesus.
Mateus busca atingir o seu objetivo detendo-se na narração de alguns fatos que julgou importantes para transmitir a mensagem que pretendia, e Lucas buscou na narração de outros fatos transmitir a mensagem a que se propunha, e, se formos interpretar particularmente os fatos narrados por cada um desses evangelistas, veremos que os dois atingiram o seu objetivo: Mateus conduz o seu leitor por caminhos mais acidentados e sofridos (magos, massacre, fuga), e Lucas por caminhos mais tranqüilos, celestiais e místicos (anjos, leis, templo, profetas).
Mergulhemos um pouco mais profundamente na análise dos fatos narrados pelos dois evangelistas. Observemos que, para Mateus, Jesus nasceu em Belém e aí ficou até a posterior fuga para o Egito, não havendo a viagem de Jesus com seus pais para Jerusalém, para apresentação ao templo, conforme preceituava a lei Mosaica. Porém, Mateus oferece importantes informações ao declarar que Jesus nasceu “no tempo do rei Herodes”, o qual veio a falecer no início do ano 4 a. C.
Os magos eram sábios que a tradição popular elevou à categoria de “reis”. Segundo os historiadores gregos Heródoto e Xenofonte, eram altos sacerdotes que se ocupavam principalmente de medicina, astronomia (astrologia) e ciências divinatórias. Existem exegetas que consideram que eles vieram da Pérsia, outros, por terem sido astrólogos, julgam mais provável que tenham vindo da Caldéia, porém, para a Palestina, a Mesopotâmia (Pérsia e Caldéia) ficava ao norte, e, ao “oriente”, ficava a Arábia; os presentes que trouxeram também atestam que vieram da Arábia: Isaías (60:10) cita o ouro e o incenso de Sabá; Jeremias (6:20) fala do incenso da Arábia; a mirra (resina do Balsamodendron) também provinha da Arábia. Alguns Pais da Igreja que viveram na Palestina, como Justino, Orígenes e Epifânio, também supunham que os magos teriam vindo da Arábia, embora outros Pais da Igreja acreditaram terem eles vindo da Pérsia.
Quanto ao número (3?) e seus nomes, são desconhecidos. Foi Beda (escritor inglês, 673 a 735 d. C.) quem os chamou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A tradição da igreja latina os limita a três por causa dos presentes, mas nas igrejas sírias e armênias julga-se que eram doze; porém, tudo não passa de conjecturas.
Também não há segurança quanto à data da chegada desses magos; como procuravam por um recém-nascido, deduz-se que se trata de menos de um ano a partir do nascimento de Jesus; a ordem de Herodes, mandando sacrificar todas as crianças de 2 anos para baixo também faz supor a mesma coisa.
Quanto ao “astro” que os magos haviam visto no “oriente”, temos algumas observações importantes a fazer; alguns julgam tratar-se de um cometa, o que não é possível pois os cometas não desaparecem para reaparecer mais tarde. Um astrônomo alemão de nome Kepler observou, em 1.603, uma conjunção de Júpiter (“Deus Pai”) com Saturno (“Avançado em dias”; “evoluído”; “virgem” ou “virginal”) no mês de dezembro. Logo a seguir, na primavera, Marte aproximou-se desses dois planetas e, posteriormente, no outono, surgiu uma estrela nova, “de grande brilho” (Centelha de Luz/Cristo), entre esses três planetas. Kepler supôs que o mesmo fato teria ocorrido na época do nascimento de Jesus, fez extensos cálculos matemáticos e concluiu, depois de exaustivos estudos, que no ano 747 de Roma (ano 7 a. C.) Júpiter e Saturno se reuniram na constelação de Peixes (lembremo-nos de que, nessa época, a Terra estava a sair da constelação de Áries para entrar na constelação de Peixes, como agora está saindo da constelação de Peixes para entrar na constelação de Aquário, recuando sempre de um signo a cada dois mil anos. Recordemos ainda que o símbolo bíblico na época de Abraão a Jesus era o “cordeiro”, e, a partir de Jesus passou a ser o “peixe”, freqüentemente utilizado pelos primeiros cristãos para identificar-se). Portanto, na constelação de Peixes, veio unir-se a Júpiter e Saturno o planeta Marte na primavera de 748 de Roma (6 a. C.). Para um estudo ainda mais minucioso, recomendamos que se leia a obra de Kepler, intitulada Opera Omnia, Frankfurt, 1.858, tomo 4, pág. 346 e seguintes.
É de conhecimento geral entre os estudiosos dos povos antigos que os caldeus eram muito bons astrônomos, tanto que sobre eles escreveu Cícero (De Divinatione, I, 19): “Os caldeus observam os sinais do céu, anotam os cursos das estrelas com seus números e movimentos... e possuem em seus registros observações seguidas durante 470.000 anos”. E Diodoro de Sicília (II, 31) atesta que esses registros tinham 473.000 anos seguidos. É muito fácil agora, depois de todas essas informações, concluir que os magos, vindos de suas terras longínquas, sabiam que essa conjunção astral revelava o nascimento de um grande Ser, o Rei dos judeus, não lhes sendo difícil localizar o Seu nascimento na Palestina, porque Peixes era justamente o símbolo peculiar àquele país. Em maio do ano 747 de Roma (ano 7 a. C.) os magos, alertados por aquela primeira conjunção astral, prepararam-se para aquela longa viagem até a Palestina, devendo ter chegado a Jerusalém nos primeiros meses do ano de 748. E exatamente de março a maio desse ano, aos dois planetas Júpiter e Saturno uniram-se Marte, Vênus (a “estrela da manhã”, que simboliza o “amanhecer” de uma nova era, a era de peixes) Mercúrio e o Sol, o que fez os magos “reencontrarem” o “astro do Messias” ao saírem de Jerusalém. Fica, então, como época mais provável para o nascimento de Jesus o ano 747 de Roma, ou seja, o ano 7 antes da era cristã.
Segundo a interpretação usual, os presentes dos magos representam: o ouro, o reconhecimento de Sua realeza; o incenso, o reconhecimento de Sua divindade; e a mirra o reconhecimento de Sua humanidade. Logo após as homenagens ao Rei (espiritual) nascido em terras da Judéia, os magos recolheram-se e consultaram os oráculos (realizaram uma sessão mediúnica), “e recebendo a resposta” do espírito a quem haviam consultado no sono (ou transe?) para não voltar a Herodes, resolveram regressar à sua terra por outro caminho, o que fez com que Herodes mandasse sacrificar as crianças.
* (Extraído do livro "Divina Presença!", cap. 12. O Autor autoriza a cópia e a divulgação da mesma desde que citada a fonte).
Nota:-
NESTE TEXTO TEMOS UMA CLARA IDÉIA DO QUE OCORREU EM TERMOS DE DATA NA ÉPOCA DO NASCIMENTO DE JESUS, ALÉM NATURALMENTE DA HISTÓRIA REAL COM RELAÇÃO AOS REIS MAGOS.
É IMPORTANTE FRISAR QUE A DATA QUE CONTAMOS A PARTIR DE ZERO, NASCIMENTO DE CRISTO NÃO É VERDADEIRA, DEVIDO A FATOS ESCLARECIDOS CLARAMENTE AQUI NESTE TEXTO, ALÉM NATURALMENTE DO MÊS DE NASCIMENTO NÃO TER SIDO EM DEZEMBRO.
ABRAÇOS FRATERNOS,
Vicente Chagas