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A população da Turquia em 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A Turquia está exatamente no meio do caminho entre o Ocidente e o Oriente. Istambul ocupa os dois lados do estreito de Bósforo e é uma cidade que se espraia por dois continentes.
A maior cidade da Turquia foi fundada em 667 a. C. pelos gregos (o colonizador Bizas) e era conhecida por Bizâncio. Mas estando na confluência da Europa com a Ásia, a cidade foi conquistada e governada pelos Lídios, Persas, Atenienses e Macedônios. Alexandre o Grande passou por Bizâncio. A cidade de Tróia fica ao lado. Depois Bizâncio foi conquistada pelos Romanos. Três séculos depois do início da Era Cristã, o imperador Constantino (324-337) transformou a antiga Bizâncio em capital do Império Romano, rebatizando a cidade de “Nova Roma”. Mas ela ficou conhecida mesmo como Constantinopla. Um marco da arquitetura foi a construção da igreja Hagia Sophia, construída entre 532 e 537, no Império Bizantino, para ser a catedral de Constantinopla.
Mais de mil anos depois de uma rica e conturbada história, Constantinopla foi conquistada pelos Otomanos em 1453 e passou a se chamar Istambul. A conquista de Constantinopla pelos Otomanos é o fato considerado o início da época Moderna. Na verdade, a perda de Constantinopla pelos Europeus rompeu com o fluxo de comércio com a Ásia. Isto forçou à busca de uma novo caminho para as Índias. Daí vieram as grandes navegações e o descobrimento da América. Enfim, pela cidade histórica de Istambul passaram grandes líderes mundiais, grandes imperadores, grandes religiosos, grandes cientistas e marcos históricos únicos, etc.
A Turquia é um Estado laico desde a revolução promovida por Mustafá Kemal Attatürk, logo após o fim da I Guerra Mundial. Quando o carismático primeiro-ministro Erdogan chegou ao poder, em 2002, fez do ingresso da Turquia na União Europeia, inicialmente, sua meta principal. O Partido Justiça e Desenvolvimento, de inspiração muçulmana, tem enfrentado dificuldades para melhorar os direitos das minorias e reduzir as restrições à liberdade de expressão. Existem resistências para colocar a Turquia mais perto dos usos e costumes do Ocidente.
Uma questão chave seria a entrada da Turquia na União Europeia. Seria um teste decisivo na integração do continente pois a Turquia é um país muçulmano com mais de 73 milhões de habitantes, em 2010, e deve chegar até 90 milhões, em 2040. Seria, portanto, o país mais populoso na União. Diversos líderes europeus, principalmente de origem católica, se manifestaram contra a entrada da Turquia. Porém, a entrada da Turquia na União Europeia seria o teste decisivo, pois se considerava que a economia turca poderia ganhar muito participando de um mercado muito maior.
Porém tudo mudou com a crise europeia de 2008 e que se agravou a partir de 2011. A União Europeia está em frangalhos, com possibilidade de implosão e com um possível fim da moeda comum, o Euro. Concomitantemente, a Turquia chegou a apresentar taxas de crescimento elevadas, em torno de 8% em 2010 e 2011. Segundo pesquisas de opinião, em 2004, 73% dos turcos achavam que o ingresso na União Europeia seria uma boa opção, contra apenas 38%, em 2010.
Ou seja, com a crise europeia a Turquia se volta para a Ásia, que é a região do mundo de maior crescimento econômico. Como a Turquia tem grande influência no Oriente Médio isto pode ser um fator de interesse para a China e a Índia. Ou seja, a tomada de Constantinopla, em 1453, foi o início de um novo caminho para as Índias. A perda da Turquia pelos europeus pode ser um ganho para os asiáticos (especialmente China) e mais um passo para a mudança na hegemonia econômica do novo mapa do mundo.
A população da Turquia era de 21,2 milhões de habitantes em 1950 e passou para 72,7 milhões de habitantes em 2010. Para 2050, a estimativa é de 91,6 milhões na projeção média, devendo cair para 79 milhões de habitantes em 2100. No final do século XXI pode chegar a 130 milhões na hipótese alta ou 44 milhões na hipótese baixa. A densidade demográfica era de 27 habitantes por quilômetro quadrado em 1950 e passou para 73 hab/km2 em 2010.
A taxa de fecundidade total (TFT) da Turquia era de 6,3 filhos por mulher em 1950, muito alta para os padrões europeus, mas passou para o nível de reposição (2,1 filhos) em 2010. As estimativas médias indicam TFT de 1,7 filho em 2050 e 1,9 filho por mulher em 2100. O número médio de nascimentos estava em 1,1 milhão no quinquênio 1950-55 e chegou a 1,3 milhão de nascimentos em 2005-10. A razão de dependência demográfica era de 74 pessoas dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa e caiu para 48 em 2010. Isto quer dizer que a Turquia está em plena fase do bônus demográfico.
A mortalidade infantil e a esperança de vida estavam, em 1950-55, em 167 mortes para cada mil nascimentos e 48 anos, respectivamente. A mortalidade infantil caiu para 24 por mil e a esperança de vida subiu para 73 anos, no quinquênio 2005-10. Para 2100, estima-se uma mortalidade infantil e 5,3 por mil e uma esperança de vida de 84,5 anos.
Em termos ambientais, a Turquia possui déficit ambiental, pois segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF, a pegada ecológica per capita dos turcos era de 2,55 hectares globais (gha), em 2008, mas possuía uma biocapacidade de apenas 1,31 gha. O avanço na transição demográfica e na transição para uma economia de baixo carbono pode ajudar a Turquia a minorar seus problemas ambientais. Problemas que precisam ser equacionados tanto na Europa, quanto na Ásia.
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FONTE : José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
EcoDebate, 24/05/2013
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