Aquecimento global: 80% da energia gerada na China é baseada em carvão mineral, um combustível fóssil altamente poluente e um dos maiores contribuintes do aquecimento global. Foto: EcoD
A batalha chinesa é contra a poluição a que todos os países deveriam aderirPois é, quem poderia imaginar alguns anos atrás que o maior poluidor do mundo tomaria uma decisão como a da semana passada, ao fechar usinas siderúrgicas que não cumpriram metas para reduzir a poluição causada por suas atividades.
As usinas fechadas estão localizadas na província de Shangdong e a região é responsável por cerca de 8 milhões de toneladas de aço produzidas anualmente, de um total de 1,2 bilhão produzidos pela China. Parece pouco, mas representa um severo compromisso do país com a redução dos estratosféricos impactos ambientais causados ao longo dos últimos anos de acelerado crescimento.
Desde o ano passado a China já havia emitido sinais de que a poluição representava um perigo bem maior do que um crescimento mais moderado e que seria preciso fazer todos os esforços para reduzi-la. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, reforçou esse compromisso na abertura do Congresso Nacional do Povo na semana passada e deixou claro que outras indústrias poderão ser fechadas caso não alcancem os resultados esperados.
Razões não faltam para essa “declaração de guerra”, a matriz energética chinesa está baseada no combustível fóssil não renovável carvão mineral. Para ficar mais claro 80% da energia gerada no país é baseada nele que além de ser altamente poluente é também um dos maiores contribuintes do aquecimento global. Se somarmos aos altos índices de contaminação e degradação de rios, desmatamento, consumo e urbanização acelerados dos últimos anos, temos aí uma equação capaz de colocar o futuro do país em risco.
A poluição atmosférica tem sido responsável pelo agravamento de doenças e provocado um descontentamento generalizado das populações chinesas, principalmente as que residem em grandes cidades. Nos últimos tempos ficaram famosas as cenas de cidades encobertas por grossas nuvens de fumaça, pessoas com máscaras e atividades sendo canceladas como aulas, por exemplo, para reduzir a exposição das crianças aos malefícios dessa poluição.
Por mais autoritário e fechado que seja o regime chinês, é inegável que as reclamações do povo, bem como, as visíveis consequências advindas da deterioração ambiental foram razões suficientes a sensibilizar as autoridades para essa “declaração de guerra”.
Apesar do caráter dramático que os fatos relatados atingiram na China é difícil não constatar que o problema é generalizado. Rios e mares com suas águas contaminadas, poluição atmosférica, destruição de florestas e espécies, além das mudanças climáticas cada vez mais nítidas e cristalinas são problemas que afetam a todos, indistintamente.
Se o país que mais cresce no mundo e, para muitos, já considerado a maior economia do mundo adota essa postura, o que as outras nações estão esperando para fazer o mesmo?
Essa que poderíamos chamar de uma terceira guerra mundial seria muito bem vinda, desta vez não com o intuito de destruir pessoas, sociedades, países e culturas, mas para enfrentar e dizimar um inimigo comum capaz de colocar em risco a própria sobrevivência da espécie humana e de tantas outras que a milhares de anos habitam este planeta.
* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e palestrante e consultor na área ambiental.** Publicado originalmente no site Carta Capital. (Carta Capital)
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