Mbabane, Suazilândia, 27/3/2013 – Há quatro anos que Tintfombi Msibi passa diariamente por um poço abandonado em sua aldeia de Ekuphakameni, uma das mais secas no sul da Suazilândia, quando se dirige a um sujo riacho a dois quilômetros de distância para pegar água. “Temos que nos esforçar para trazer água a esta comunidade, porque o poço que o governo instalou para nós já deteriorou”, disse à IPS esta mulher de 52 anos.
O poço foi instalado graças ao Plano de Água Umbfombo Wekuphila, sob a condição de os beneficiários criarem um fundo para sua manutenção. Porém, Msibi contou que alguns membros da comunidade são muito pobres para pagar a cota mensal de US$ 1,60. “A maior parte das pessoas daqui é pobre, por isso não podem pagar”, afirmou.
Devido à falta de manutenção, o poço foi se deteriorando, e o custo dos reparos agora exige que cada família consiga dez vezes mais dinheiro do que contribuiu originalmente para a sua abertura. Em um país onde 63% da população vive abaixo da linha de pobreza, de US$ 2 diários, US$ 17 é uma quantia muito alta. E a comunidade de Msibi não é a única com dificuldades no acesso à água.
A organização não governamental Water Project afirma que 90% dos projetos comunitários para fornecer água neste país da África austral não estão funcionando. O diretor do Departamento de Água Rural do Ministério de Recursos Naturais e Energia, Obed Ngwenya, confirmou que a enorme maioria dos projetos está paralisada, mas que só poderia fornecer dados concretos após a avaliação do funcionamento de cada um deles.
“Mais de 90% dos planos rurais de água usam poços, que representam um grande desafio, porque se rompem”, disse Ngwenya à IPS. O resto dos projetos consiste em mananciais, que são muito mais fáceis de manejar, explicou. Além disso, acrescentou que normalmente, quando um poço se rompe, outro é construído. “O que está deteriorado não é refeito, por isso fica ocioso”, acrescentou.
A aldeia de Ekuphakameni fica dentro da jurisdição de Matsanjeni, que tem 175 poços. O diretor do distrito, Seth Gumbi, explicou à IPS que 75 deles não funcionam e que os cem restantes não são suficientes para cobrir a demanda dos 17 mil habitantes. Alguns poços usam bombas operadas manualmente que quebram com facilidade, disse Gumbi, esclarecendo que outras se deterioraram pela alta concentração de sal na água, que corroeu seus mecanismos. “Alguns poços secam porque a água subterrânea é insuficiente. Há poços por todos os lados, mas não há água para beber”, ressaltou.
Trevor Shongwe, diretor interino do Departamento de Água Rural, assegurou à IPS que o poço de Ekuphakameni será reparado dentro de poucos meses, e então Msibi não terá que sair de sua aldeia para conseguir água potável. “Atualmente estamos fazendo um mapa de todos os planos de água rural no país para saber quantos estão funcionando”, informou, acrescentando que cinco dos 55 distritos do país já foram estudados. Shongwe afirmou que o governo se associou com privados e grupos da sociedade civil para reparar os poços danificados.
Segundo o presidente do não governamental Fórum de Água, Saneamento e Higiene, Jameson Mkhonta, a maior parte dos projetos ficou paralisada por falta de manutenção. E outros deixaram de funcionar porque as comunidades não podiam pagar a eletricidade exigida pelas bombas. “Como parte de uma iniciativa de reabilitação, também sensibilizaremos as comunidades para que mobilizem recursos de maneira a pagarem suas contas de eletricidade”, afirmou Mkhonta à IPS. As comunidades também serão capacitadas sobre como administrar os projetos de forma eficiente. O Departamento de Água Rural exorta as comunidades a usarem bombas de água por gravidade, sempre que seja possível, para não gastar eletricidade.
Nsuka, comunidade que fica a uma hora de Manzini, a capital comercial do país, utilizará este tipo de bombas. Financiado pela organização World Vision Swaziland (WVS), o projeto implica a construção de um tanque com capacidade para 120 mil litros de água de um manancial próximo. “O manancial fica no topo de uma colina, o que facilita o bombeamento graças à gravidade”, explicou à IPS o gerente do programa de água e saneamento da WVS, Daniel Maduna.
O projeto atenderá, a partir de junho, a demanda de 221 domicílios com média de dez pessoas cada um, afirmou Maduna. Embora o custo do projeto seja baixo, os moradores de Nsuka terão que contribuir para a manutenção das tubulações. Até agora reuniram US$ 66 para criar um fundo. Maduna disse que as torneiras comunitárias serão instaladas em um raio de 200 metros de cada casa. “Cada pessoa tem direito a 30 litros de água por dia. Este projeto atenderá essa demanda, e se espera que funcione por mais de 20 anos”, acrescentou. Envolverde/IPS