Exposição está à mostra no Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados desde ontem, 18 de abril. Foto: Divulgação
Mostra vai de 17 a 26 de abril, com fotografias e outras produções realizadas em oficinas com jovens indígenas do Brasil e do Paraguai.Fortalecer identidades e valorizar a cultura e a tradição Guarani através do olhar e da perspectiva de crianças e jovens. Este é a proposta do projeto ‘Olhares Cruzados – Guarani Kaiowá – Pai Tavytera’, transformado em uma exposição que foi aberta ao público esta semana (17) na Câmara dos Deputados, em Brasília. A mostra contribui para a construção de uma visão positiva destes povos, ampliando a integração entre eles e a sociedade brasileira.
Dentre as diversas matizes dos povos Guarani, o trabalho traz um cruzamento de visões entre dois deles: os Guarani Kaiowá e os Pai Tavytera. Os Guarani Kaiowá são as populações que vivem no lado brasileiro, enquanto a comunidade Pai Tavytera está em território paraguaio. A integração destas duas etnias através da arte busca articular a luta pelos direitos para além das fronteiras geopolíticas.
A mostra é composta por 16 mosaicos de fotografias, desenhos e entrevistas produzidas pelas crianças e adolescentes indígenas de Panambizinho, Tey Kue, Kurusu Amba (Mato Grosso do Sul) e de Reko Pave (em Capitão Bado, Paraguai). As produções são fruto do projeto Olhares Cruzados, uma parceria entre a OSCIP ‘Imagem da Vida’, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Conselho Aty Guasu, a ONG Nossa Tribo e o PNUD.
Retratos dos Jovens Guarani ganham destaques na exposição. Foto: Divulgação
O ‘Olhares Cruzados’ desenvolveu nas aldeias oficinas de fotografia, redação e desenho. A exposição também conta com trabalhos dos renomados fotógrafos Rosa Gauditano e Christian Knepper, que documentaram as atividades realizadas com as crianças. O trabalho do projeto foi registrado em livro e em documentário (“Olhares Cruzados – Guarani Kaiowá Pai Tavytera”, com a direção de Nilton Pereira).
A cerimônia de inauguração da exposição (de 17 a 26/04), no Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados, contou com a presença da Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, do representante residente do PNUD, Jorge Chediek, de lideranças indígenas, entidades de defesa dos diretos dos povos indígenas, parlamentares e demais autoridades.
A realização da mostra é fruto de um convênio com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. A parceria prevê também a realização de um Fórum entre jovens Guarani Kaiowá e representantes do Poder Público, no segundo semestre de 2013, visando a formulação de políticas que contemplem os direitos desta etnia.
A etnia Guarani, uma das maiores do continente sul-americano, contribuiu diretamente para a formação do povo brasileiro. Mesmo com toda a privação de direitos e territórios iniciada com a colonização, os Guarani Kaiowa ainda formam a mais populosa etnia indígena do Mato Grosso do Sul. Esta população ainda vive uma difícil situação no que se refere aos seus direitos humanos.
Olhares CruzadosGaroto da Aldeia Kurussu Ambá, que participou do projeto Olhares Cruzados Guarani Kaiowá Pai Tavy Tera. Foto: www.imagemdavida.org.br
O projeto Olhares Cruzados, iniciado em 2004, possibilitou o conhecimento recíproco entre cerca de 1.500 crianças brasileiras de comunidades quilombolas e indígenas, latino-americanas, africanas e de países fruto da diáspora africana, através da troca de fotografias, cartas e objetos produzido por elas durante as oficinas. Esta atividade veio para fortalecer suas identidades e ampliar os seus universos culturais, por meio do reconhecimento da forma como se veem e querem ser vistas. Os resultados são publicados em livros, distribuídos nestas comunidades, em escolas e bibliotecas no Brasil e no exterior. Atualmente, já foram produzidos quatro documentários em vídeo, dez livros publicados e mais dois estão em fase de edição.
Onze países, para além do Brasil, foram englobados no projeto: Angola, Moçambique, Senegal, Haiti, Congo RDC, Mali, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Bolívia, Paraguai e Etiópia; No Brasil, as ações aconteceram nos seguintes estados: Amazonas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piaui, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande Do Sul e São Paulo.
Desde o seu início, o projeto Olhares Cruzados contou com grande reconhecimento da mídia e da sociedade em geral. Em 2010 a coordenadora do programa, Dirce Carrion, recebeu a comenda da Ordem do Rio Branco como reconhecimento da eficácia do projeto no tratamento das relações do Brasil com a África e países fruto da Diáspora Africana. Para Dirce, o projeto é uma forma eficiente de promover o autoconhecimento e o registro da história destes grupos, afinal, “o fato de se apresentar para o outro passa obrigatoriamente pelo ato de olhar para si mesmo, pelo reconhecimento do seu contexto, pela reflexão sobre os seus saberes e valores culturais e, principalmente, pela compreensão de pertencimento a uma comunidade”, afirma Dirce.
Este trabalho contou com o apoio institucional de diversas organizações sociais, órgãos do governo e embaixadas. Os principais financiadores foram: Ministério das Relações Exteriores, Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial – SEPPIR, Secretaria Especial de Direitos Humanos – SDH, UNICEF, Save the Children, PNUD, UNICEF, OEI, Instituto HSBC Solidariedade, entre outros.
* Publicado originalmente no site PnuD.
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