Imagens: Lucas Müller e Fabrício Basílio. Ilha Grande.
Rede SISBIOTA MAR destaca a riqueza do ambiente marinho nacional e ressalta a necessidade de medidas de conservação destes ecossistemas, sendo que mesmo as ilhas mais distantes mostram impactos da ação humana.Dados preliminares de estudos que vêm sendo conduzidos desde 2010 pela Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha (Rede SISBIOTA-MAR) apresentam um cenário crítico para um país que tem 75% da sua população vivendo a menos de 200 km do mar1, sendo que além de parte dela depender dos recursos marinhos para sobreviver, a demanda por frutos do mar cresce exponencialmente.
O país tem um ambiente marinho extremamente rico: das 90 espécies de cetáceos existentes no mundo, 45 estão no Brasil, assim como cinco das oito espécies de tartaruga e ao menos 100 das 330 de aves1. Porém, o conhecimento sobre tamanha riqueza ainda é esparso e a exploração dos ecossistemas marinhos tem se dado sem qualquer planejamento ou monitoramento.
Com foco nesse cenário, pesquisadores de todo o Brasil se uniram para criar o SISBIOTA MAR, avaliando de forma padronizada a vida marinha em costões rochosos, recifes de corais e fundos arenosos desde os ambientes costeiros até ilhas oceânicas.
“Nós também mapeamos os mosaicos de áreas protegidas, que na verdade ocupam uma área muito pequena, apenas 2% incluindo todos os tipos, sendo que 0,14% são de proteção integral, incrivelmente pouco. Como a pesca vai ter sustentabilidade se não houver essas áreas protegendo os peixes adultos?”, ressaltou Sergio Floeter, coordenador-geral da Rede SISBIOTA MAR. A meta estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) é que 10% dos ecossistemas marinhos estejam protegidos até 2020.
O SISBIOTA MAR está na fase de análise de dados e deve ser concluído no ano que vem, mas já se pode ter uma visão preliminar dos dados, muitos deles divulgados durante o 4º Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, realizado entre 20 e 23 de maio em Florianópolis.
“Alguns lugares já sabemos que estão em piores condições”, coloca Floeter, completando que a ideia é que os resultados sejam divulgados para subsidiar os órgãos gestores, por exemplo, aprimorando o mapa do Ministério do Meio Ambiente, que classifica os ecossistemas brasileiros por prioridade de conservação – no caso dos oceanos, abrange toda a costa brasileira como nível máximo.
As pesquisas estão indicando alguns locais que não têm áreas protegidas e seriam mais prioritários para a sua criação. Em relação à riqueza de espécies, essas áreas seriam, por exemplo, o sul do Espírito Santo e as redondezas da Baía de Todos os Santos (Bahia); considerando o volume de biomassa, outros locais como as ilhas oceânicas da Cadeia Vitória Trindade e Atol das Rocas chamam a atenção.
“Temos também alguns locais intermediários, como aqui no sul, a Ilha do Arvoredo. Comparativamente com o restante de Santa Catarina, essa Reserva Biológica está muito bem”, notou Floeter.
“Podemos ver que quando não tem pesca [no caso das áreas de proteção integral], há uma melhora. Comparando, por exemplo, Fernando de Noronha com o Atol das Rocas, mesmo com o primeiro tendo zonas de exclusão de pesca, só o fato de ter mais gente e turismo, tem uma pressão diferenciada. Por isso precisamos ter áreas de proteção integral.”
Na Reserva Biológica Arvoredo, Floeter constatou uma biomassa três vezes maior dentro da área protegida do que fora, mesmo com todas as pressões de pesca ilegal que sofre. “Está bom perto do que está muito ruim, mas ainda pode ser bem melhor.”
PesquisasO SISBIOTA-MAR, coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina e envolvendo outras dez universidades, é formado por três grandes linhas, que enfocam Ecologia, Evolução e Química Marinha. Os projetos da rede resultaram até agora em oito artigos publicados em periódicos internacionais, o mais recente tratando da criação de um modelo para prever risco de extinção de peixes recifais.
Tubarões, raias e peixes endêmicos são os mais vulneráveis entre os peixes recifais brasileiros. Os pesquisadores descobriram também que o tamanho do corpo e posição na cadeia alimentar são atributos importantes para predizer a vulnerabilidade de peixes à extinção.
Por exemplo, em ambientes chamados ‘pristinos’, aqueles mais próximos das condições naturais, espera-se que a maior biomassa seja de predadores de topo da cadeia alimentar, como os tubarões. A sua presença indica a sua saúde do ecossistema.
Em ilhas do Pacífico como Malpelo (Colômbia) e Revillagigedo (México), os tubarões chegam a compor 20% da biomassa total, indicam pesquisas do SISBIOTA MAR.
Porém, infelizmente, não é o que se tem constatado nos mares em território brasileiro, mesmo em locais isolados como as ilhas da Trindade ou o arquipélago de São Pedro e São Paulo.
Pesquisas da Rede concluíram que, nessas ilhas, a maior biomassa é de peixes onívoros, que comem outros animais e também vegetais. O Atol das Rocas se mostrou como único local onde ainda se vê predadores em abundância, colocou Carlos Eduardo Ferreira, pesquisador associado da rede.
A pressão da sobrepesca parece ser um fator importante nesse desaparecimento dos animais. Aterradoramente, a ausência dessas populações no Brasil é similar ao que vem ocorrendo em muitos locais do mundo, com estimativas girando em torno dos 90% de redução na ocorrência de tubarões globalmente.
Ferreira ressalta as características peculiares ao longo da costa brasileira, e o forte potencial de se desenvolver pesquisas em ambientes muito diversos.
“Cada uma das ilhas oceânicas é muito diferente. Os recifes do nordeste, da costa subtropical, são muito diferentes dos do Caribe”, nota.
A Rede SISBIOTA-MAR é uma rica fonte de informações sobre os nossos oceanos, complementada por várias outras iniciativas também apresentadas no 4º Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, que você poderá acompanhar aqui no CarbonoBrasil durante a semana.
Citação:1 – Vianna, M. O pesquisador e a mídia: tornando as Ciências do Mar mais atraentes para a imprensa e para o público leigo. In: Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, 4ª edição, 2013. Florianópolis. Anais. Associação Brasileira de Biologia Marinha, 2013. 194 p.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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