Por Maurício Andrés Ribeiro* Em visita a Hiroshima, em 1986, nosso grupo de estudantes desejou plantar uma árvore no Parque da Paz, em homenagem aos mortos pela bomba atômica. Foi necessário pedir autorização na prefeitura, que determinou a espécie, o local em que deveria ser plantada, forneceu a muda de tamanho adequado e as ferramentas para o plantio. Pela primeira vez percebi que a gestão daquele componente da cidade demandava cuidado técnico e científico.
A adequada arborização urbana exige conhecimentos de botânica, engenharia florestal, paisagismo, para que cumpra suas funções com segurança e beleza. Na ausência de tais conhecimentos, ocorrem acidentes tais como a queda de árvores, com perdas de vida e materiais e pode-se gerar um sem número de outros inconvenientes para os cidadãos.
Quando fui secretário de meio ambiente em Belo Horizonte a maior demanda dos cidadãos era pela realização de poda de árvores em frente a suas casas. Os galhos invadiam as janelas, facilitavam assaltos a residências, conflitavam com a fiação elétrica, as raízes rompiam redes de água e esgoto e estouravam a pavimentação.
Em articulação com as administrações regionais, realizamos o cadastramento, poda e plantio programado de arvores nas vias urbanas. Montamos um projeto, o Verde Vivo, com o objetivo de aprimorar os critérios e normas técnicas para poda e plantio de árvores e promover a harmonia na convivência entre árvores, pessoas e equipamentos urbanos. Foram cadastradas centenas de milhares de árvores, o que incluía seu endereço, espécie, diâmetro, copa, altura, condições do tronco, estado fitossanitário, sistema radicular, largura do passeio e recuo do imóvel, presença de rede elétrica, período de floração e de frutificação. Engenheiros florestais ou agrônomos definiam as espécies mais adequadas para ser plantadas e evitavam aquelas que produziriam conflitos com as condições locais. As administrações e empresas contratadas faziam o plantio e a poda. Uma auditoria era simultaneamente realizada para aferir se os tipos de podas recomendados eram os efetivamente executados, reduzindo a margem de irregularidades por parte das empresas prestadoras dos serviços, que recebiam efetivamente o preço justo contratado. Campanhas de comunicação na mídia e folhetos para os moradores proporcionaram o necessário apoio e a simpatia da população e reduziram os índices de perdas por vandalismo das mudas plantadas. Os galhos e folhas, resíduos da poda de árvores eram doados a associações de ação social, que distribuía a receita em obras filantrópicas. Galhos finos e folhas resultantes da poda eram reutilizados visando à produção de energia e de composto orgânico, usado na fertilização dos próprios canteiros e jardins da cidade.
Na Praça da Liberdade encontramos árvores inapropriadas, como sapucaias, plantadas com as melhores intenções, mas com pouca avaliação dos seus impactos, pois crescem demasiadamente, tornando-se logo impróprias para aqueles locais. Restaurada na ocasião, recebeu espécies adequadas. A partir de projetos de paisagismo aprovados no Conselho Municipal de Meio Ambiente, o Parque Municipal foi remodelado, muitas árvores foram eliminadas e substituídas por outras.
Sistematizamos o conhecimento sobre os principais temas da gestão ambiental urbana numa série de Cadernos de Meio Ambiente, então publicados pela Prefeitura por meio da Secretaria de Meio Ambiente. Um deles abordava a arborização urbana, sua história, funções, a importância do planejamento. Também descrevia a estrutura de uma árvore, o planejamento da produção de mudas, do plantio, as espécies adequadas, a implantação de jardins e canteiros; o planejamento da poda, as causas da redução da cobertura vegetal e os problemas de saúde das árvores. Naquele caderno registramos o conhecimento sobre a arborização urbana e contribuímos para a educação ambiental. As árvores sombreiam, embelezam os lugares, purificam o ar, fazem barreiras contra o ruído, protegem o solo contra erosão, preservam nascentes de água.
De mudança para Brasília, me impressionou positivamente a plenitude com que, as superquadras dessa cidade, as árvores crescem em amplos espaços, o que reduz a necessidade de podas. Caminhar pelas superquadras mais antigas é caminhar dentro de parques. Os acidentes com grandes árvores são raros, mas basta atropelar a periodicidade adequada e descuidar dos preceitos dos bons cuidados para, em pouco tempo, o mato e a galharia rebelde da vegetação urbana tomar conta da cidade.
Há cidades com pouca vegetação nas vias publicas, mas com quintais preciosos que merecem ser preservados. Algumas cidades tem feito isso por meio de isenção de impostos municipais, que incentivam os proprietários a preservarem as árvores.
A gestão ambiental é gestão de conflitos de interesses e um dos conflitos frequentes ocorre entre proprietários de terrenos que querem fazer empreendimentos imobiliários e grupos ambientalistas que preferem proteger a vegetação ali existente. A mediação de tais tipos de conflitos é parte integrante da gestão ambiental urbana.
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(*) Autor de Ecologizar, de Ecologizando a cidade e o planeta e de Meio Ambiente & Evolução Humana WWW.ecologizar.com.br
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