Por Michaeleen DoucleffNão tem nada mais irritante para um amante de cães do que ouvir coisas como “pare de falar desse jeito com seu cachorro, ele não te entende!”.
Agora, quando você quiser calar a boca desses insensíveis, pode contar com a ciência: uma nova pesquisa do grupo MTA-ELTE da Academia de Ciências da Hungria, em Budapeste, descobriu que nossos amigos de quatro patas tem um “detector” no cérebro dedicado a decifrar emoções em vozes humanas e caninas – e é por isso que seu bichinho de estimação sempre sabe quando você está triste ou alegre.
O circuito neural funciona de forma surpreendentemente semelhante ao dispositivo de detecção de vozes encontrado no cérebro humano. “É o primeiro passo para a compreensão de como os cães podem ser tão sintonizados com os sentimentos de seu dono”, diz Attila Andics, neurobiólogo que liderou o estudo.
Os resultados sugerem que a área para detecção de vozes evoluiu pelo menos 100 milhões de anos atrás, a idade do último ancestral comum de humanos e cães. Também oferecem uma nova visão sobre a conexão exclusiva dos seres humanos com os nossos melhores amigos animais, e ajudam a explicar os mecanismos comportamentais e neurais que fizeram desta aliança tão eficaz por dezenas de milhares de anos.
O estudoNa década de 1990, cientistas canadenses identificaram uma parte do cérebro humano dedicada a reconhecer vozes. A área não processa palavras ou frases; na verdade, ela detecta todas as outras informações contidas em sons. Por exemplo, quem é a pessoa que está falando? Como ela está se sentindo? Ela está sendo sarcástica ou falando sério?
Andics e sua equipe queriam ver se os cães tinham uma região análoga em seus cérebros. Para isso, eles tiveram que realizar o aparentemente impossível: fazer com que 11 cães ficassem imóveis dentro de uma máquina de escaneamento do cérebro de 10 minutos a uma hora, o tempo todo ouvindo cerca de 200 barulhos diferentes.
Os cientistas começaram com métodos de treinamento padrão: montes de guloseimas e carinho para mostrar que o cachorro fez o esperado. Mas o que realmente ajudou foi criar uma competição entre os animais.
“Nós colocávamos um cão experiente no scanner, e ele ficava lá quietinho. Então nós trazíamos para a sala um cão menos experiente, e ele ficava com tanta inveja! Ele também queria estar na mesa do scanner como o outro cão”, explica Andics.
Após cerca de 20 sessões de treinamento, os pesquisadores colocaram fones de ouvido em cada cão e os deixaram ouvir três tipos de sons: vozes humanas, vozes caninas e ruídos ambientais, tais como um telefone tocando ou um martelo batendo em um prego.
A equipe, então, analisou quais partes do cérebro dos animais responderam a esses sons. Eles descobriram que, assim como os seres humanos, os cães têm uma região com neurônios que se acendem com mais força quando ouvem vozes de sua própria espécie – outros cães latindo, rosnando ou lamentando.
Houve também uma região que era sensível aos tons emocionais em ambas as vozes humanas e caninas, e essa área fica localizada no mesmo local que é encontrada em pessoas – na parte de trás do cérebro, perto das orelhas.
“Quando você olha como os cães respondem a estímulos emocionais em sons, é muito semelhante à forma como os seres humanos respondem. É na mesma região do cérebro, e é mais forte com vocalizações positivas do que negativas”, afirma Andics.
Isso significa que, como as pessoas, os cães usam parâmetros acústicos simples para deduzir o conteúdo emocional de um som. Por exemplo, quando você ri , o som sai em peças curtas e rápidas (há há há). Mas se esse som ficar mais longo (haaaa, haaaa), começa a soar mais como um choro ou lamento. É nisso que as pessoas – e os cães – prestam atenção.
Mas também foram vistas algumas diferenças no processamento de sons nas duas espécies: em cães, 48% de todas as regiões do cérebro sensíveis ao som responderam mais fortemente a outros barulhos, que não vozes. Nos seres humanos, entretanto, apenas 3% das mesmas regiões do cérebro mostram uma maior resposta a sons não vocais.
Tradução: Natasha Romanzoti.
Fonte: HypeScience / NPR / ScienceDaily.