caldeira dow erb Ouro verde: Empresas apostam na energia da biomassa de eucalipto
Caldeira da planta de cogeração de vapor e energia. Foto: Eduardo Freire/Divulgação

Quando se fala no desenvolvimento de energia no Brasil, o município de Candeias (BA), situado a cerca de 40 quilômetros de Salvador, tem seu nome na história. Foi nessa cidade que jorrou petróleo pela primeira vez no país em nível comercial, fato que ficou consagrado com a foto do então presidente Getúlio Vargas com a mão direita suja de petróleo, em visita feita ao lugar em junho de 1952.
Mais de 60 anos depois do episódio, nesta quarta-feira, 26 de março, foi inaugurada uma planta de cogeração de vapor e energia gerados a partir da biomassa de eucalipto. O projeto das empresas Energias Renováveis do Brasil (ERB) e Dow Brasil é pioneiro no setor petroquímico – e busca abastecer a unidade da Dow em Candeias com energia limpa, substituindo parte do gás natural produzido atualmente. Em vez do “ouro negro” vislumbrado por Getúlio, a cidade baiana pode agora estar diante de um futuro “ouro verde”.
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Foto histórica de Getúlio Vargas em Candeias, com a mão suja de petróleo, na década de 50

O investimento de aproximadamente R$ 265 milhões é responsável pela geração de 1,3 mil empregos diretos e 3,4 mil indiretos, nas áreas industrial e florestal. “Este modelo de negócio viabiliza a geração de energia e vapor industrial em um ambiente de desenvolvimento sustentável”, destaca Paulo Vasconcellos, diretor-executivo da ERB.
Com o projeto, a Dow substitui 150 mil metros cúbicos diários de gás natural. A unidade tem capacidade para produção anual de 1,08 milhão de toneladas de vapor industrial e 108 mil MWh de energia elétrica. Serão substituídos 83 milhões de metros cúbicos de gás natural, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Estima-se que 169 mil toneladas de dióxido de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera anualmente, representando uma redução de 33%.
Projeto pioneiro
ERB e Dow estabeleceram contrato de 18 anos para fornecimento de vapor e energia. O projeto, que utilizará biomassa de eucalipto de reflorestamento (florestas plantadas para este fim), consumirá 10,4 mil hectares da madeira, originária de fazendas próprias da ERB e de parcerias que a empresa estabeleceu com produtores rurais de municípios do litoral norte da Bahia.
“Vale ressaltar que esse é um projeto pioneiro, de grande escala, no qual empregamos tecnologia de última geração com o que há de mais moderno e inovador”, afirma Emílio Rietmann, presidente da ERB. Na mesma linha, o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, lembra que a Bahia já possui um bom espaço para a fonte eólica, além de setores como o sucroalcooleiro e o da celulose, mas faltava um projeto de biomassa. “Entusiasma o governo porque é inovador e tem grande dimensão.”
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Eucaliptos são cultivados, plantados em áreas de pastagem degradadas e transportados até a usina de cogeração, onde são transformados em biomassa usada na geração de energia. Foto: Divulgação

De acordo com Rodrigo Silveira, diretor de operações do complexo da Dow em Aratu, o projeto contribui para o aumento da competitividade do complexo industrial e está alinhado com as metas de sustentabilidade da companhia, pois aumenta a participação de matrizes energéticas renováveis no processo produtivo. “Além disso, desde a etapa de construção da usina, mantemos o diálogo permanente com os líderes comunitários e conseguimos, assim, criar oportunidades de trabalho para os moradores de localidades próximas ao Complexo da Dow. Durante as obras foram gerados mais de 200 empregos para a comunidade de Candeias e região”, conclui o executivo.
Matriz diversificada
O presidente da Dow na América Latina, Pedro Suarez, lembra que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo (sobretudo hidráulica), mas que é preciso diversificá-la, a fim de evitar problemas como a atual crise do setor. “Estamos celebrando hoje um compromisso sustentável. É preciso diversificar as fontes de forma competitiva”, defendeu o executivo.
Para Rietmann, os 12,5 MW que a planta de Candeias produzirá não resolverão o problema do país, mas por se tratar de um projeto pioneiro de energia renovável, poderá estimular o desenvolvimento de empreendimentos semelhantes, com foco na biomassa. “O país tem uma grande quantidade de áreas de pastagem degradadas [180 milhões de hectares], que poderiam virar biomassa. Não é preciso degradar nada. A oportunidade é agora”, ressalta.
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Autoridades e representantes das empresas envolvidas celebram a inauguração da planta de cogeração de energia
Foto: Eduardo Freire/Divulgação

Emissões do transporte
Ao ser questionado sobre o transporte do eucalipto, que virá da região do litoral norte baiano até a fábrica de Candeias (cerca de 120 quilômetros), Rietmann adianta que a ERB tem o plano de diminuir a distância das plantações para a usina em 80 quilômetros nos próximos anos, por meio do arrendamento ou compra de terrenos mais próximos.
A concepção original do projeto contava com a linha férrea passando pelas fazendas da empresa e seguindo até a planta para despejar as toras, mas esse trecho encontra-se inoperante, devido a problemas referentes a concessionária. Com isso, os caminhões (mais poluentes do que os trens) tendem a ser usados. “Também estamos secando a madeira mais dias no campo, com isso a umidade dela cai de 60% para 20%, então eu transporto menos peso, o que significa menos viagens, água e o volume de emissões”, completa o presidente da ERB.
A energia gerada pela planta de Candeias será destinada à rede de distribuição. Uma vez terminada a fase de testes, a nova fábrica tem previsão de começar a operar a partir do dia 4 de abril.
* Publicado originalmente no site EcoD.
(EcoD)